segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Ainda

Continuo a achar estupidamente complicado de olhar para lá e saber que durante horas será apenas o meu coração a bater naquele espaço para dois. Já faz mais que tempo desde que o calor é partilhado no aconchego do sono e num eventual despertar conjunto. E em nada serve o lamento que sufoca o ardor dessa falta inesperada e sentida, mas o mesmo peso que desliga os sentidos, facilmente é movido para o sarcasmo e melancolia que servem de alimento ao sujeito comum. Consequente dessa prática, surgem momentos de íntima ligação com a mente mais propícia e/ou mais próxima, que tornam toda a memória da experiência num raio de luz intensamente quente. Nada, ou quase nada, é recordado com lamúria ou desgosto e no final de contas o calor acaba por ser suficiente e o espaço por ser ocupado. O espaço literal, porque a lacuna interior, essa não há quem a preencha. Ainda.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Sem receios

Não me voltes a pedir desculpa. Peço-te.

São tantas as palavras que ainda quero ouvir e reouvir da tua boa, mas essa não faz parte da lista. Pelo menos, já não. Durante anos foi fantasia, imaginar-te proferir uma palavra que implicasse erro do teu lado. Contam-se bem os momentos espalhados pelos anos, dos quais tenho seguro que a culpa era tua e não o admitiste. Eu sabia que estavas errado e tu, não admitiste! Ficava furioso por não ter esse reconhecimento e porque no final o erro, era mais um que ficava registado na longa lista. Ficava sentido e magoado.

Revejo em mim, muitas ações e atitudes que vi em ti. Impulsos e nervos, aliados a stress. Já foram várias as indicações à minha forma de ser e, saindo a ti, entendo-te. Mas não acredito que tenhas toda a culpa. São instintos enraizados e que custam a lidar. O nosso psicológico e forma de pensar não toma sempre o caminho correto e quem está mais perto faz de tabela, mais vezes do que é merecido. Luta diária, da qual nunca pensei desistir e que, no entretanto, terá tréguas e dará espaço a melhores memórias.

O sentido e sentimento que tenho agora não transparece o mesmo que sentia antes. Terá sido moldado à medida que também entendia realmente o que vale a pena e há momentos e palavras que não devem ocupar esse tempo. Não quero que me fales como se houvesse a mínima remota chance de me ofenderes ou falares mal. Não quero que tenhas receio de falar comigo sobre o que for, a que horas forem. Não quero que te sintas mal por dizeres algo errado, sem querer ou porque a memória já te pode falhar. Quero que me digas tudo o que tens a dizer, quando tiveres que dizer, sem medo e sem qualquer sentido de culpa. 

Houve tanto que mudou, mas há coisas que não quero que faltem. Fala comigo e fala à vontade, tal como eu o faço contigo, sem receios , sobre o que penso e o que faço! Mas não me peças desculpa, por favor. Não és tu que o precisas de fazer, para ser alguém, sou eu! Eu é que tenho que, pelo menos, tentar pedir desculpa e por tanto que nem é possível mesurar. Mas quero fazer por mudar isso, também! Farei por ser melhor e para aproveitar melhor o tempo e as palavras. Quero mais e melhor, por ti, para ti e para nós.

domingo, 29 de março de 2020

Mundano

Tens assombrado os meus sonhos no pouco tempo em que me é permito dormir por esta mente incessante em voltar às memórias de ti. Questiono o porquê de olhos abertos, numa tentativa de introspecção para ao menos nesse instante não seres tu o meu pensamento. Tento fazer o necessário e forço muitas diversas distracções, algo que me ocupe a mente e me mantenha focado, caso contrário já é bem sabido que até o mais mundano acontecimento me vai fazer pensar como seria toda a tua reacção. O que dirias. A tua expressão característica de falar. O teu sorriso e a maneira como os teus olhos brilham, por trás dessa mente também sombria.

Tem sido difícil com este isolamento, porque a mente não acompanha a solitude do corpo. Ela continua a vaguear por essas ruas, por esses cafés, por essas casas onde as memórias feitas vão desvanecendo, mas a sensação ainda é recordada, por vezes. Sim, admito. Nem sempre evito e por raras vezes carrego no acelerador a caminho de uma qualquer lembrança tua que me faça recordar um bom momento. Como tudo o que sabemos fazer 'mal' e nem assim cessamos. Há aquela música. Aquela cor. Há tanta coisa que sei que irá retornar a um dos momentos em que o mundo não existia. O mundo éramos nós.

sábado, 30 de junho de 2018

Moderação

Por vezes imagino se não é de propósito esta minha forma de ser que vos inquieta e vos tira do sério. Se a impossibilidade de uma conversa não chegar ao fim sem uma discussão é minha culpa. Suponho que, dada a longevidade do percurso, seja mais fácil de encarar quando a resposta está à nossa frente.
Mas seria assim tão mau? Não deve cada acção ser verdadeira, dentro dos limites obviamente, em vez de falsa? Se calhar seja o caminho mais fácil, menos doloroso. É inclusive a melhor solução, sendo que a outra passa por ... devaneios. Nem vale a pena ponderar que sou assim porque lá no fundo apenas vos estou a testar, de certa forma, se ainda estão a fim de lutar por mim. Sou assim porque sou e a única coisa a fazer é mudar. Dar real significado à definição de modesto, humilde e, principalmente, moderado. Porque daí vem algo mais. Vem algo de tudo, porque tudo é moderado.

quinta-feira, 23 de março de 2017

Sim, isto é sobre ti

Lembro-me da primeira vez que te vi desnudada de todas as tuas fortalezas, muralhas e barreiras invisíveis, ao ponto de no profundo dos teus olhos ver que te estavas a entregar de forma voluntária, qual salto de fé. Arrepiante essa sensação de ver alguém vulnerável a esse ponto e não conseguir de forma alguma não abrir essa porta por ti destrancada, para ver o cerne de algo tão belo e íntimo. Observar todos esses segredos recônditos que guardas com medo de o deixarem ser.

Recordo bem o primeiro relance inconsciente sobre ti. Surge-me às vezes algo que poderá até ter sido a primeira palavra proferida entre os dois. Aquele cheiro que estava no ar, propício à época, até me ocorre quando calha senti-lo de novo. O que é certo é que aquele olhar nunca esquecerei. A pureza naqueles espelhos da tua alma que ao capturarem a minha atenção, me tornavam débil e incapaz de não fixar o olhar de volta perpétuamente, só até que a distância entre nós passasse da visão para o tacto, do psicológico até ao físico.

Penso nisso nalguns dos muitos segundos do dia-a-dia e, embora seja um lembrar inconsciente, negar o desejo de absorver de novo esse olhar não tem qualquer sentido, quando o próprio inconsciente assim o desperta. Daí que, mesmo que o tempo agora começasse a passar à mesma velocidade que o meu músculo interior batia naquele momento de revelação, ao te ver liberta para mim, não iria deixar de me conseguir lembrar dessa primeira vez intrínseca, como se o estivesse a viver novamente.
Só nós dois. Olhos nos olhos.

sábado, 21 de janeiro de 2017

Aquele Apelo

Por favor não acabem.
Vejo-vos há tão pouco tempo juntos, mas o pouco tempo que foi, para mim foram alguns dos melhores desde que vejo a vossa existência. Deu-se um click natural e todas as nossas formas de ser, se conjugaram num ambiente de um dia criar nostalgia. Embora o conheça a ele há mais tempo e tenha alguma pequena preferência em estarmos apenas os dois a viajar, mal haja aquele pré-aviso da tua vinda cá, eu próprio fico entusiasmado. Ele é, em tudo, mais ao teu lado. A expressão natural que ele tem aumenta exponencialmente quando tu estás por perto dele. E, como bom amigo que penso ser, prefiro aquela versão feliz dele. Sempre.
É por isso mesmo que me entristece sequer pensar que por uma, lá está, na minha perspectiva, simples pequenez que deu em chatice, consigas ponderar dar cabo de uma amizade/relação tão esplêndida e próspera como a vossa. Não, não me entristece apenas. Irrita-me bastante, já que a estas horas só dá para ser sincero. Fico furioso ao pensar que te deixes levar no quente dos shots da noite e tenhas na ponta da língua umas simples e poucas palavras, mas que possam arruinar aquilo que tantos invejam. Só por repensar nas analogias que te contei, na fraca tentativa de aliviar o ambiente, bate-me uma forte nostalgia daquela pessoa feliz e realizada que fui enquanto um num colectivo de dois. Pensar que estão a deitar isso fora dá-me vontade de vos esbofetear à razão.
Tudo certo que estou de fora e a relação é vossa, mas uma vez que a vossa felicidade aumenta a minha, não vejo porque me hei-de calar. Muito menos quando vejo à minha frente alguém a desperdiçar uma feliz coincidência que cresceu ao ponto de se transformar numa das melhores combinações que já conheci na minha vida.
Por favor. Não acabem.

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

O Trono

Há sempre alguém na nossa vida.
Quando se é pequeno e se ganha consciência, será alguém da família como será de supor. Um rosto familiar ou até aquela voz reconhecível. Ao crescer ganham-se gostos e aprendemos a diferenciar. Ganha-se um à vontade com alguém e passa a ser essa a pessoa que ocupa o lugar central de todo e qualquer pensamento e ação. Tanto por algo significativo como uma conversa, como por algo tão simples como um olhar ou sorriso.
De pressa se ganham essas preferências e começa então a ser ocupado esse dito lugar. Seja dia ou noite, muitas vezes a dormir, surge assim essa pessoa que nos faz sentir em harmonia.
Alguém que nos faz sentir a nossa total plenitude. Alguém que nos preenche quando nos sentimos vazios. Alguém que nos acalma em momentos de azáfama. Alguém que nos ilumina quando nos sentimos isolados. 
Eventualmente esse cargo vai mudando entre pessoas, consoante os tempos decorrem. Pouco ou nada é controlável dentro deste apetecer. Podemos querer querer, mas nem sempre se consegue que esse desejo seja direcionado para onde se realmente ambiciona. Típico cliché da disputa entre o cérebro e o coração. Típico cliché do cupido a falhar a seta. Típico que, pessoalmente, nada de típico tem.
Emerge assim este carrossel à pala, sem paragens predefinidas, com aquele trono exclusivo para um. Nele, nem sempre entra só quem quer, da mesma forma que nem sempre entra quem queremos. Voltas e voltas que ele dá, indiferente a quem não somos indiferentes. Incontrolável e sem destino à vista, segue a mil a hora, à roda, sem centrifugar.
Surpreendentemente, poderá, por ventura e fortuitamente, despoletar aquela oportunidade. Aquela chance única de uma vida em que, pela ponta dos dedos, conseguimos agarrar essa pessoa que por tanto ansiámos durante estas voltas da nossa existência. Um momento especificamente restrito a nós e a quem cobiçamos. Resta-nos somente decidir se ficamos na mesma, estagnados, ou se abandonamos qualquer vestígio de receio e, cegos e expostos, damos O passo em frente.
Há sempre aquela pessoa que ao nosso redor nos proporciona algo mais. Há sempre alguém que por mais simples gesto nos faz tremer. Há sempre alguém que por muito se tente, não nos é indiferente.
Há sempre alguém nossa vida.