domingo, 24 de junho de 2012

A Ferida


Podia ter sido numa queda. Podia ter sido uma brincadeira de amigos. Podia até ter sido numa briga nocturna.
Foi na parede. De propósito. Sozinho.
Deu o primeiro golpe e nada. Deu o segundo e o terceiro e nada. Só o sétimo é que começou a acusar dor. Ao décimo começou a ver a parede a ficar vermelha. Pequenas manchas de sangue.
Doi-lhe mais a mão direita pois tem mais força e a raiva deixou-o descontrolado.
Finalmente, o sinal de dor. Uma pequena gotícula de água a escorrer pelo rosto facilmente confundível com suor.
Chegou ao ponto desejado. Ao ponto em que a dor das mãos faz esquecer a dor do coração que mais uma vez foi esfaqueado, pisado e cuspido em cima.
São apenas uns segundos de alívio até a dor voltar ao pensamento.
"Porquê? Porque é que acreditei que desta vez seria diferente?". E mais golpes saiem desse pensamento enraivecido.
Não cai. Atira-se ao chão. Espernear e gritar ajudam a soltar o ódio que sente.
No fim levanta-se, respira fundo e esconde tudo o que foi naquele momento. A faceta violenta, raivosa e cheia de ódio desaparece. Pelo menos por hoje.

domingo, 3 de junho de 2012

Gostava de poder chorar.


Cada sofrimento teu provoca-me um sentimento profundamente amargo e inexplicável.
Por muito pequeno que seja, doi. Toda a gente o sabe.
Mas por muito grande ou pequeno que seja, eu guardo-o. Guardo-o bem cá no fundo do meu ser. Junto todas essas raivas e angustias que me são provocadas diariamente.
Como um grande homem bastantes vezes me disse: a corda estica até partir.
E assim como tudo, o meu reservatório de angústias tem limite.
Chega a um ponto em que por muito que se tente, não cabe mais. E aí, explode. Explode como uma bomba de estilhaços que afecta todos à minha volta. Quer seja indirectamente a uns e directamente a outros. Quer seja mais uns que a outros. Ela acaba por chegar a todos por diversas maneiras.
O mais triste disto, é que nunca (ou raramente o) fiz para que tal acontece-se.
Apenas em uma ou duas raras ocasiões na minha vida desejei tão mal a alguém ao ponto de quer que sentissem esta minha 'bomba'. E hoje em dia, olhando para trás, arrependo-me de sequer ter pensado em tal.
Ninguém merece tal sofrimento. E lá por eu o sentir, não o devo desejar "ao próximo".