domingo, 25 de novembro de 2012

Sorriso do Passado

Instalou-se a melancolia. Nada a fazer agora senão passear na 'memory lane'. Ao certo, desconheço o que despoletou recordação. Entre a música, a letra e o detalhe, qualquer um poderá ter sido. Embora o detalhe tenha sido essencial. Daí a designação.
Lembro-me, não como se fosse ontem, mas como se tive sido ainda esta década. Ainda está presente na memória, mas há falhas criadas pelo tempo e distância. Talvez até auto-infligidas, quem sabe. A primeira vez? Não sei quando terá sido. Provavelmente nem notei por ser algo vulgar. É apenas mais uma expressão do corpo humano. Porque haveria de lhe dar especial atenção? A verdade é que assim como cada um é diferente, também as nossas expressões são únicas.
Olhos bem abertos, focados uns nos outros. Mãos à frente da cara, para não deixar ver o sorriso, ou talvez os dentes. E aquele rir. Aquele riso mais que característico, sendo provocado ou não. Difícil era parar. Porque haveria? Sabia tão bem. Ainda o consigo ouvir, em sonhos.
Agora, o mesmo instinto que incentivava a chacota, transforma-se por completo. Com o tempo a memória muda. A chacota passa a saudade. Instala-se a melancolia.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

A Luz

Pisquei os olhos. E num piscar tudo mudou. Daquelas coisas que, sem repararmos, vão mudando e quando realmente te apercebes, a diferença é gigantesca. Como do sol para a noite.
Pisquei os olhos de novo. Não queria acreditar na mudança tão repentina. Não pensei que tal fosse possível. No céu apenas um punhado de estrelas se viam.
Pisquei os olhos e desaparecera. Aquele brilho que me guiava ao subir minha rua. Aquela memória que me fazia sorrir quando tudo estava em baixo.
Pisquei os olhos. Não chegou a um segundo, mas às vezes um único segundo pode durar uma vida inteira. Foi o que eu senti naquele instante.
Pisquei os olhos e deixei de a ver. Ultrapassou o alcance da minha visão. Podia dizer que saiu da minha vida, mas seria um exagero. Afinal, apesar de nem sempre a vermos, todos sabemos que a Lua está no mesmo sítio.

domingo, 4 de novembro de 2012

A Cicatriz

"É veneno que corre pelas veias. É vírus implantado no meu cérebro. É pesadelo que me assombra de noite. É miragem que me desorienta durante o dia. É coincidência que não passa despercebida.
Tudo calmo e sossegado. E logo com um som ou vibrar chega-me o sabor do veneno. Amargo e cruel. Magoando-me outra vez. Esmagando o que outrora cicatrizou inúmeras vezes.
Antídoto inexistente. Só o próprio veneno. "Fogo com fogo". Aqui é outro mal que se aniquila a ele mesmo. Ou pelo menos ameniza a dor. Essa não quer acabar. Como um parasita instalou-se e quer ficar. Qualquer lembrança é suficiente para mostrar a sua presença e magoar de novo."