sábado, 28 de dezembro de 2013

Incertezas

"Pesadelos não são, pois quando se está acordado apenas se tem sonhos, dizem. Por exclusão de ideias, ter a tua pessoa na minha visão, não estando a dormir, é um sonho. Ou deveria ser, se não me deixasse desta maneira desamparada, sem ter onde me agarrar para não cair. Já considerei ser a concretização de nostalgia, mas não a dei por certa. Talvez pelo simples facto de não ter de assumir a saudade que lhe está associada. Admitir saudade, nesta altura do campeonato, seria dar a parte fraca, rebaixar a minha pessoa e até assumir que errei. Algo que não me permitiria continuar em frente sem constantemente olhar pelo retrovisor. Ou será que é precisamente isso que estou a fazer sem me aperceber? Será que é por isso que por muito que tente prosseguir, não vejo forma de avançar?
E mais uma vez fico me por aqui, por entre pressupostos não concretizados e ideias diretas e simples que se tornaram vagas. Isto tudo porque admitir o que quer que seja implicaria ter de pensar no antes, agora e depois. Não me sinto preparado para tal.
Assim me despeço e até já."

sábado, 21 de dezembro de 2013

Consciência

Fui ali comprar um bocado de humildade. Ao que parece a procura não é muita, mas é bastante valiosa e paga-se caro para a ter. O pior ainda é que não vem com o típico folheto informativo. Inventei assim por alto a posologia, pelo que pode estar assim meio para o torto, digamos.

O primeiro passo é a negação. O segundo é aceitar e admitir que algo está errado e descontrolado. Ainda não dei esse passo, mas pelo menos já levantei o pé e estou a pensar para que lado me viro para saber onde concretizar o dito passo. É um começo.
Não acho correto, mas não deixo de tentar culpabilizar alguém por ter chegado a este ponto. No entanto, agora que já comprei alguma, consigo meter a mãozinha no sítio certo e atribuir responsabilidade a quem realmente criou toda esta situação e deixou que batesse no fundo - me.

Infelizmente consigo recordar momentos de que não me recordo totalmente. A quantidade de situações que podiam ter sido evitadas é demasiada para ignorar. Problemas que surgiram de noites pouco claras. Raríssimas vezes algo de bom adveio de noites embaciadas. Pelo menos esse bom tenho-o mantido perto de mim. Mas nada é garantido e odiaria-me se até isso estragasse.

Não tenho gasto muito tempo a refletir, porque não tenho tido esse luxo. Agora que parei e pensei, toquei com a ponta dos dedos e quase que agarrei e concretizei uma conclusão. A realidade custa e não gosto de lidar com ela. É muito melhor clicar no botão e desligar tudo por umas horas. O problema é que essas horas estragam dias, semanas e até anos, sem sequer me aperceber no momento. Até porque no momento, estou offline.

Já sei por experiência própria que prometer a mim mesmo é inútil. Não adianta continuar essa ilusão. Como tal, faço-o a ti. Foste, és e quero que continues a ser uma parte integral, senão vital, da minha vida. Não é justo sentires as réplicas dos terramotos que eu crio e sofrer injustamente. E por muito que tenha procurado o teu perdão, o mal já estava feito.

Fica aqui prometido. Quer leias isto ou não. Porque sei que ao fazer-te esta promessa, vou imaginar a tua cara de sofrimento e desilusão cada vez que tiver vontade de me desligar por umas horas. A primeira vez que vi essa tua expressão é algo que recordo com dor, especialmente por ter virado as costas em vez de te abraçar, animar e ficar contigo. Tal e qual como fizeste comigo quando eu mais precisei.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Nostalgia

Anos passaram, mas ainda recordo de acordar com sorriso de orelha a orelha. Tinha tido a melhor noite da minha vida. Noite essa que, durante toda uma semana, me foi contada, idealizada ao detalhe de cada pormenor e ao ponto da perfeição. A ansiedade para sair e provar tudo o que me havia sido prometido, nem hoje consigo transcrever.
Anos passam e a memória obscurecida apenas permite relembrar flashes, alguns sentimentos e poucas palavras. Tentei durante um tempo agarrar, proteger e guardar cada pequena lembrança que ainda teimava em perdurar. Não foi em vão, mas a força tem limites e, com o tempo, também ela foi enfraquecendo. Só as melhores memórias prevalecem.
Anos passavam, mas agora parecem correr. Ou talvez seja apenas a sensação de saudade idealizada. O desejo sentimental de quem quer regressar a uma visão do passado que já não existe e que não é possível de superar a nível físico. Não dá para quantificar este desejo. A vontade de reviver uma felicidade que não existe mais.




sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Ideologia da Mudança

Setembro 2013

Tarde? Mais que tarde. Já quase se ouviam os passarinhos a cantar lá fora. Num momento repentino de ira chega o pensamento..
"Que queres de diga? Queres que diga que não? Queres que admita?
Queres que diga que o não estares comigo me é indiferente?"
Impaciente e sem escolha. Ou será que tem escolha e apenas não o sabe? Ou então tem todas as escolhas à sua mercê, mas escolhe não escolher.
A mudança pode agitar as coisas e dar para o torto. Se não escolher nada e algo mudar para pior a culpa não lhe é atribuída. Então escolhe ir com a onda em vez de nadar.

Mudar é chato, trabalhoso, incomodativo.
Mudar implica abandonar e deixar coisas para trás.
Mudar exige mais de ti do que pensas ou mais do que estavas à espera.
Mudar é necessário.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Conversas Perpendiculares

Temos que falar.
Temos que falar do que se passa entre nós.
Temos que falar do que não se passa entre nós.
Temos que falar das pessoas que andam a passar entre nós.
Não sei se já mencionei a necessidade que tenho de comunicar contigo.

Preciso da tua linha orientadora que me fazia levantar todos os dias. Aquele olhar penetrante que fazia de travão num coração que andava nos 1000 e não fazia qualquer intenção de reduzir - indiferente e ignorando por completo o ambiente que gerava.

Tento pensar como tu, mas não consigo. Não chego lá. Não dá.
És e sempre serás muito melhor do que eu em todos os aspetos.
Mais feliz, saudável. Ignorante ao lado sombrio da vida.
És criança cujo objetivo diário é arranjar algo para brincar.
Apenas te ganho em maturidade, responsabilidade e experiência.
Não obstante, o resultado final não muda: tu ganhas sempre.

Separaste de mim, mas não te limitaste a ir. Partiste-me ao meio. Quebraste e tornaste-me incompleto. Dividiste algo que, por si só, já era uma metade de algo maior. Não ficando por coisas pequenas, ainda fizeste questão em deixar os cacos no chão para eu pisar. Ao fim de contas, a metade da metade continua funcional. Não tão bem como antes, mas ainda da um c ao o2.

Tenho te visto em noites mais turvas. Nada de objetivo ou concreto. E tal como eu, a tua visão mudou. Enquanto andas à procura do conforto de alguém, eu penso no futuro e trabalho para ter um. Os mesmos interesses conflituosos de sempre que nos levam ao afastamento e até a deixar de falar. Custa porque dói e é chato e estou farto de me coçar, mas no fundo mais não posso fazer do que mencionar o que já foi extensivamente repetido. A tua falta é sentida em cada pensamento. Nós temos de falar.

domingo, 20 de outubro de 2013

Noite de Lata

O que é para ti a amizade? É estar lá para as pessoas? É acompanhares a vida social e saberes quando alguém está mal e preciso de desabafar? É estar longe, mas ao mesmo tempo manter aquela ligação que nada nem ninguém consegue alterar? É algo que se pode sequer descrever em palavras ou é simplesmente uma 'cena' que se sente? É correto dizer que amizade é um sentimento? Tanta pergunta e no entanto as respostas podem (e devem) ser mais que as mães.
O que para uns é bom, para outros é mau. A maneira e as palavras que usas para definir algo varia e deve assim ser. Ser tudo igual para todos tem o seu quê de monotonia que enjoa. No entanto, há aquelas certas coisas que, pelo menos, deveriam ser standard.
A simples palavra amizade sempre existiu com o mesmo conceito. Pelo menos até haver a invasão do facebook e destruir por completo essa mesma noção de "amigo(a)". O que é certo é que ainda há boas pessoas que valorizam esses e outros certos valores. Sem amizade não se vive. Sem amizade, como base, não há relação que dure muito tempo. São valores que se têm e que se devem ter para desfrutar de uma vida feliz e saudável. Digo eu. E quem sou eu para falar? Ninguém. O que é certo é que tenho os meus amigos (não me estou a referir a aqueles do FB) e hoje só comprovei que há valores que falam mais alto.

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Monólogo

És tu que estás a olhar para mim ou sou eu que estou no teu campo de visão? Fico indeciso. Olho para ti, mas não te vejo. Não és tu. Lembras-me alguém do passado que se parecia contigo. A mudança é perceptível e nem tu discordas comigo. Assim que abro a boca, dizemos ao mesmo tempo "Mudaste!". Ao menos nisso estamos de acordo.
Vejo o meu passado em ti embora não te reconheça. Fico intrigado com este acontecimento e questiono-me se o fizeste por querer ou se nem tu notaste à medida que te ias modificando. Não viste os sinais? Não percebeste quando alguém tentava, subtilmente, dar-te a percebê-lo? Ou será que sabias perfeitamente que te estavas a estragar e ignoraste cada sinal de perigo que te aparecia à frente? Pensando bem, sempre foste um bocado masoquista.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Efeitos Aleatórios

Qual a probabilidade de uma coincidência ser isso apenas isso mesmo, um pura coincidência? Algo que parece propositado pelo destino - para quem acredita nisso -, mas que no fundo não passa de um ato aleatório no tempo. Questiono ainda: quão coincidente tem de ser para ter algum impacto no quotidiano?
Estás a andar pela rua. Vês uma pessoa. Ao percecionar uma caraterística dessa mesma pessoa, a mente pode divagar sobre um qualquer assunto relacionado o que pode levar a que em vez de a seguir virar à direita, vires à esquerda. É simples como algo tão aleatório, como a próxima pessoa que vai passar por ti, pode mudar o teu dia.
Mais simples que isso. Um carro. Coisa que hoje em dia é impossível de não encontrar ao andar pela cidade. Desde a cor menos apelativa à mais comum, a reação à perceção visual da frequência dessa mesma cor pode te levar a um número infinito de pensamentos. Desde o acontecimento marcante da última vez que viste tal cor, ao simples recordar de alguém cuja cor favorita é precisamente a que acabaste de ver. Coincidência? Talvez.
Vou ainda mais longe. Aproveitando o fator carro, menciono a matrícula. Um conjunto alfanumérico contínuo e catalogado. No entanto a probabilidade de ver um "00" ou "AA" sempre me pareceu minúscula. Vendo as coisas pela mesma perspetiva da cor, será que duas simples letras/números será capazes de despertar algum pensamento, assunto ou memória? E possivelmente mudar a nossa maneira de agir e, consequentemente, o rumo em que estávamos?
Vendo bem, a melhor maneira de testar, ou tentar perceber se tal acontece, é fazendo precisamente isso: testar!
RD - PO - SE - BN - ML - FT - CD -LI - 29 - 92 - 17 - 09 - 15 - 28 - 90 - 00
Despertou alguma coisa? Coincidência. As letras foram escolhidas por serem adjacentes num comum teclado qwerty e os números foram praticamente aleatórios. Algo tão simples e se calhar esta borboleta vai causar um furacão do outro lado do mundo.

terça-feira, 13 de agosto de 2013

Trigonometria

Sinto-me capaz de falar sobre linhas e retas apenas porque já fiz todas as minhas cadeiras de Matemática (yupi). Apesar de não ser algo do meu agrado, é algo que faz parte das nossas vidas e é daquelas coisas que não dá para ignorar. E eu sei muito bem ignorar.
De um ponto de vista simples, cada um de nós é uma reta. Uma linha simples com início e fim. Por mais que se tente, há sempre linhas que se cruzam e daí surgem amizades, companhias, rancores, amores, histórias e afins. Cabe a nós decidir que tipo de linha somos ou queremos ser. Se formos uma linha contínua, ou temos sorte, encontramos uma linha igual à nossa e se forma uma função ou apenas nos cruzamos com outras linhas e afastamo-nos delas. E sendo a nossa contínua, não nos voltamos a cruzar.
Dá jeito ser uma linha variável, como aquela função que aprendemos que sobe e desce - seno ou cosseno. Dá-nos uma chance maior de encontrar outras linhas com as quais é possível reencontrar mais à frente no gráfico da vida. Se bem que há sempre aqueles espaços intermédios onde não cruzamos a linha que queremos. É uma questão de escolha.
Vendo bem, o pior dos casos é o das linhas paralelas. Sempre à mesma distância, sempre na mesma direção, sempre sem se encontrarem. É triste se pensarmos nisso. Mas as duas linhas que se cruzam uma vez e nunca mais se encontram, acaba por ser pior.
Afinal quem é que define os limites, fronteiras e cruzamentos da nossa linha? Das nossas amizades amizades? Da nossa vida? "Nós" é a resposta que vem logo ao pensamento. Mas não é assim tão fácil de fazer como dizer.

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Divergências Noturnas

Mais um sonho contigo. Mais um contacto pelo inconsciente. Mais um desejo de ti sem sequer te poder ter ou ver à frente. Entras no meu pensamento, escondeste no canto e só apareces quando se instala um auto-descontrolo no meio dos meus sonhos. Sonhamos com o que queremos e desejamos, mas também com o que tememos e receamos. Cabe a mim adivinhar o que é que significa tudo o que se passa enquanto é suposto estar a descansar? Não, ignorar é a melhor hipótese. Renegamos tudo o que vemos e experienciamos. Se foi bom recorda-se, caso contrário enterra-se bem lá no fundo da mente. Dá jeito não lembrar de tudo. Escolher o que queremos relembrar e esquecer. Melhor só se se pudesse escolher exactamente a nossa memória: esquece isto, apaga aquilo, mete isto nos favoritos. E sempre que quiséssemos podíamos ter acesso à memória em uso. Como se fosse um mp3 em que escolhemos as músicas que gostamos naquele momento. Agora quero esta, esta já não quero. Esta pode se apagar e se for preciso, no futuro, vou saca-la.
Não chega bem a esse ponto, mas a nossa memória funciona muito à base do que queremos no momento. Agora quero isto e nada mais. Agora quero trocar e ver cenas novas. O que foi antes foi mesmo isso, o passado. Agora quero outras coisas. Ser diferente. Mudar! Exactamente como se de uma conversa se tratasse. Agora fala-se de memórias e melancolias, agora já se está a falar do jogo da Académica ou do jogo de LOL que fiz à tarde, antes do café. A mudança é repentina e dificilmente é contrariada. Se, e quando for preciso, mudar é o mais fácil de fazer. Digo eu, e qualquer pessoa, no momento.
A introdução de um novo tópico de conversa é muito facilitada hoje em dia para não haver aquele momento estranho de silêncio. Enquanto houver alguém a falar, fala-se. Se houver mais de dois segundos de silêncio, torna-se muito esquisito. É da natureza humana necessitar de uma lógica e de um seguimento. Se estamos a ir por aqui, vamos continuar ou fazer uma curva e mudar o rumo. Parar é impensável. Parar é morrer.
Olhando para trás o essencial está mais que perdido e nada o irá mudar, digo eu novamente.
No fundo da coisa vem um pensamento mais perto do exacto: talvez seja má ideia começar a escrever sóbrio e continuar depois de [número aceitável pela sociedade de hoje em dia] cervejas. O que é certo é que ajuda. Já dizia o outro.

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Uma Tarde

"Vens ter a minha casa ou vou eu ter à tua? É melhor a segunda que os meus pais estão em casa. Vou mandando mensagens enquanto apanho vários autocarros até tua casa. Compro qualquer coisa pelo caminho para o lanche, para o jantar, para brincar depois de comer. Mal chego sai um peso de cima de mim de desconforto. Sinto-me mais em casa do que em casa.
Vamos para o sofá enquanto não dá a fome. Zapping pelos canais habituais. Não gosto. Nada de jeito. E enquanto estás distraída com o telemóvel ou computador, passo pela tua séria favorita. Volto atrás e mostro-te que está a dar, só para aumentar o sorriso que já estava estampado na tua cara.
Um beijo no pescoço. Um abraço mais forte. Uma mão. Uma perna. Já cagaste na televisão. No fim dá a fome. Deixa-te estar aí que eu vou fazer um petisco. Queres beber alguma coisa? Eu trago também. Não aguentas um segundo, pois não? Tinhas de vir ter comigo à cozinha. Bem tento cozinhar, mas estás-me a distrair. A roupa de casa não ajuda. Lume no mínimo e mais uma sessão. Deixo-te a meio porque a comida já está pronta. Deixa matar a fome e já lá volto.
Colamos os dois na série que está a dar. Abraçados e meio deitados no sofá, enquanto se fuma o cigarrinho depois de comer. Acaba a série e não te mexes. Eu só me enrosco mais. Tanto no sofá como em ti. Desligo a tv só para ouvir a tua respiração. O teu coração bate calmamente junto do meu ouvido. A sensação de bem estar é extrema. Por ti ficávamos assim até eu ter de ir embora. Antes que comeces já a olhar para as horas, uso o meu infalível truque. Ah! Cócegas. Lá ficas tu a rir durante cinco minutos depois de eu parar. Ai esse riso à carro da formula um.
Há tempo para mais uma sessão? Não, há tempo para duas ou três. Há o tempo que houver para gastar menos uns minutos para arrumar a casa antes de me ir embora. Hoje não dá para ficar contigo. Era a cereja em cima do bolo. Um dia destes há-de dar. Saio com uma dor enorme na cara. A dor física de ter estado o dia todo a rir e sorrir é enorme. Sabe bem ter essa dor. Mesmo horas depois do último relance de ti a despedires-te da janela, ainda estou com um sorriso estúpido de felicidade na cara.
À noite uma mensagem e um beijo. Combinamos o quê amanhã? Vamos passear? Queres ir às compras? Vamos à praia se estiver bom tempo? Ou repetimos o dia de hoje e ficamos em casa sem fazer nada? Escolhe tu. Por mim tanto faz, desde que me concedas a tua companhia. Bem me parecia. Mais um dia no sofá. E que bom que vai ser."

quarta-feira, 24 de julho de 2013

O Título

Apetece falar. Nada em especial. Apetece falar, divagar por palavras, teorizar sobre aspetos aleatórios e talvez chegar a conclusões diversas, dizer palavras ao calhas e tentar encontrar ligações entre elas, discutir coisas banais do dia-a-dia que dão temas de conversa para horas. Ao fim e ao cabo, no cerne da essência da coisa, no fundo da questão, não se diz nada de especial.

No mesmo sentido aleatório que corre o pensamento assim correm também os dedos pelas teclas que os escrevem. Momento de relaxamento que ajuda o dia-a-dia a passar mais calmamente e que ajuda a manter esse pensamento num caminho sem sentido nem paragem. Algo que autonomamente adquiri em momentos que assim o exigiram. Difícil é manter esse caminho num rumo qualquer. Ele tem vontade própria, ganha controlo na direção e vai passear por estradas antigas.

Aquela sensação de incómodo que ao mesmo tempo que me deixa desconfortável, deixa-me também com uma certa alegria. A razão disto ser é uma incógnita indefinida. Inexplicável situação que, sem quê nem porquê, não deixa de acontecer e sem aviso prévio. Ao menos lá vai sendo rotineira o que ajuda a antever e preparar para a futura intervenção no quotidiano habitual e entediante.

Coincidência exuberante. Perfurou como uma agulha que espeta na carne. Pávido e sereno senti a dor que o meu sistema nervoso acusou, mas sem qualquer tipo de reação, mesmo tendo fobia a agulhas. Aceitei e deixei que continua-se a penetrar cada vez mais fundo. Achei a dor suportável. Foi como carícia comparada com a tortura que estava para vir. Automaticamente é criado um novo formulário de questões em que, embora todas sejam de resposta obrigatória, nenhuma tem resposta exata. Não há sim nem não. Em vez disso há e, até ver, sempre haverá um talvez.

domingo, 21 de julho de 2013

Ciclo Vicioso

Ele não sabe o que perdeu.
Naquele momento, em que deixou de ser dele, houve uma vaga de sentimentos que veio à tona. Nada específico. Apenas umas sensação de calor no peito, diferente de outras sentidas no passado.
Nada tinha mudado aparentemente. Até foi mais fácil adormecer nessa primeira noite, já que não havia aquela obrigatória preocupação. Desconhecia ele o verdadeiro ardor que sentiria nos tempos que se seguiram.
Não há algo comparável a esta perda. Quem o já sentiu consegue realmente entender. Há inúmeras maneiras de o descrever, mas nenhuma consegue englobar toda a dor que se faz sentir. Uma dor que pode durar dias ou anos.
E no fim, se houver um final, iremos apenas voltar para o mesmo caminho. Há procura de algo que, com o tempo, poderemos dizer que é nosso. Algo que nos faça querer mover montanhas, para que continue a nos pertencer. Algo que nos faça querer ser e viver, sem ter que forçar um sorriso falso na cara.

A sensação de felicidade é tão grande que entramos num ciclo (quase) infinito em que ganhamos e perdemos esse bem precioso. Diria até que é um ciclo vicioso, visto que há quem faça disto um jogo. Ora, isto pode ser interpretado de várias formas.
Há quem jogue pelo gosto do jogo. Tenta ganhar o máximo de prémios possíveis e tenta guarda-los todos ao mesmo tempo. Se perder um, não há tristeza, pois eventualmente arranja outro para substituir.
Há quem jogue para ganhar o prémio grande e deixa de jogar. Fica feliz com o que tem. Estima o seu troféu e faz de tudo para que não deixe de brilhar e de lhe pertencer.
O problema, é que nunca sabemos o prémio que vamos ganhar. Nenhum é igual a outro. Solução? Não há. É saber investir no prémio que merece ser investido. Mesmo não sendo o melhor, não tratar como se fosse um prémio qualquer. Quem sabe se um dia, ao olhar para trás, veremos que aquele era realmente o melhor dos prémios. Mas agora é tarde de mais. Já não lhe pertence. Já não é dele.
E agora sim. Ele sabe o que perdeu.

sábado, 13 de julho de 2013

Lembrança

Ás vezes não dá mesmo para esquecer. Podemos tentar ignorar. Iludímo-nos ao pensar que conseguimos esquecer quando estamos com o pensamento noutro lugar, mas assim que nos encontramos sozinhos voltamos a lembrar.
Aprendi muito sobre a memória do ser humano numa cadeira que tive. Duas noções básicas sobre duas partes em que se divide a nossa memória: short term memory & long term memory, memória de curto prazo e memória de longo prazo, respetivamente.
A memória de curto prazo armazena informação temporária e é limitada. A de longo prazo é, basicamente, tudo o que sabemos, aprendemos e, por consequência, vivemos. Não tem limite, não tem duração. Também aprendi sobre o que nos faz esquecer esses pedaços de memória de longo prazo, mas isso é outra história.
Isto tudo para dizer o quê? Que há coisas que memorizamos em pouco tempo, mas que passado horas ou menos já não nos lembramos. E há informação que retemos durante um tempo indeterminado e que não dá para esquecer.
Não esquecemos, não é bem assim. Se estas memórias forem acedidas pelo nosso pensamento ao longo do tempo, não são esquecidas. Por outro lado, se passar muito tempo sem relembrar as ditas memórias, eventualmente são perdidas e deixamos de nos conseguir lembrar, reviver.
Nada me diz que isto é assim e assim mesmo. Há variações assim como há pessoas diferentes. Sortudo ou não, tenho memórias vividas há anos atrás que chego a sentir que estou naquele momento de novo. Dá até para arrepiar por ser tão real.
O certo é que basta querer para não esquecer. Se forçares a tua mente a relembrar - ver fotos, vídeos ou pessoas do passado - vais aceder à tua memória e irás estar naquele momento de novo. Não digo a cem porcento, mas bem lá perto.
Querer esquecer é algo que todos procuramos. Afinal, nem tudo o que aconteceu no passado ficou realmente no passado. Querer lembrar? Não é difícil. Com um pouco de esforço, qualquer pessoa consegue voltar atrás a um momento, a uma situação, a um estado de espírito.

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Untitled

Procuro refúgio no escuro desta noite perdida.
O silêncio da noite apazigua a alma da dor sentida.
Mas por mais que tente há sempre uma miragem esbatida.

Vulto esse que me tem seguido pela vida fora.
Memórias guardadas dos sorrisos e risos de outrora.
Felicidade do antes que parece inalcançável agora.

Tentativas de escapar a momentos certos de nostalgia.
Tentativas de alcançar a cura para esta negra magia.
Tentativas fracassadas de voltar a rir à luz do dia.

O certo é o errado e o errado é o certo, acreditei.
Incrédulo do que diziam, pois com o amor me ceguei.
Uma força inigualável a qualquer outra que provei.

Deverá haver um fim só porque houve um início?
Negar tal fato indicava que isto foi apenas vício.
E se foi, questiono o porquê de tanto sacrifício.

Cansei de fazer questões e ter razões para temor.
Prefiro esconder tudo bem atrás do meu bom-humor.
Por fim, adormecer e talvez sonhar contigo, meu..

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Um Aperto

Nem sempre dói. Nem sempre me lembro de ti. Nem sempre a vida tem permitido uma pausa para desanuviar a cabeça e relembrar os nossos momentos. Bons e maus. Preciso desses momentos em que a única coisa que vejo é a tua face e ouço a tua voz. Sinto tanta falta da tua voz. Do teu sorriso. Do teu riso caraterístico e da cara que fazes quando te ris ainda mais!
Chega a ser uma dor física este sentimento de falta, de necessidade da tua presença. Do teu abraço e do teu conforto. Estavas lá quando precisei e gosto de pensar que o contrário também aconteceu. Talvez em menor rácio.
Sabes como sou e não sou de me expor, nem de mostrar aquele lado mais desprotegido.
Não deixo de sofrer com a distância que se criou entre nós. Sei que não foi propositado e que se por ti fosse ainda hoje nos víamos diariamente. A verdade é que perdi uma parte de mim quando foste embora.
Espero que um dia voltes. Ou que um dia eu arranje força e coragem para ir ter contigo.


"Saudade", só conhecida em galego e português, descreve a mistura dos sentimentos de perda, falta, distância e amor. A palavra vem do latim "solitas, solitatis" (solidão).

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Vício do Jogo

As relações são como uma slotmachine. Há imensas delas no casino da vida. Cada uma com as suas especificações e caraterísticas. Umas têm aqueles jogos engraçados, outras apenas parecem ser difíceis demais de compreender e nem arriscamos.
De vez em quando lá vemos aquela que parece promissora, mas mesmo que fiquemos um tempo a meter moeda não se ouve barulho nenhum - sim, tenho noção da conotação.
Depois há aquela maior e bem vistosa com o grande jackpot de milhões, mas que só os sortudos é que ganham, como se vê nos filmes e nas séries. Entre arriscar nessa ou mandar o dinheiro para o chão, fico indeciso. Se calhar se mandar para o chão, algum ainda a apanha, mete na máquina e ganha. Mas se for eu, nada.
Há aquela assim mais fácil e acessível que já conheces de ginja como ganhar e chegar ao prémio maior, mas passado um tempo parece que perde aquela piada. Torna-se monótona. Pessoalmente, não gosto de monotonia.
Com sorte, lá aparece uma nova e incentivante. Com mais sorte ainda, pomos a primeira moeda e sai logo um prémio jeitoso. Mas lá está, é preciso sorte. Pessoalmente, não tenho sorte.

sábado, 1 de junho de 2013

Descargo de Consciência

Não consigo. Não me é possível desligar este meu comportamento. Sou assim. Nem sempre fui, mas à medida que cresci fiquei com este formato psicológico. O turbilhão de imagens e pensamentos que vêm à mente não têm aquele filtro de segurança para menores. Acho que nunca o tive sequer.
Esta qualidade/defeito traz mais desvantagens que outra coisa. A impossibilidade de não conseguir não associar o que quer que seja a um segundo sentido torna qualquer tipo de relacionamento ou conversa num bloqueio vocal. É exigido da boa-educação calar-me noventa por cento das vezes para dar má impressão. Para não pensarem mal da minha pessoa. Coisa que nem ligo muito. A necessidade que tenho de agradar a gregos e a troianos é que me me faz valorizar as ideias que têm de mim. Isso sim considero como defeito.
Egocentrismo é algo que não uso. Não chega ao ponto de altruísmo utópico, mas fica algures pelo meio. Ao menos nisso não fico a oito ou oitenta. Faço o que faço por quem faço porque quero e não por obrigação mútua. Quando me pedem um favor, sempre que posso, ajudo como posso e não aponto para mais tarde cobrar. Quem merece tem. Quem não merece às vezes também tem. Gosto de ajudar e sinto-me realizado por ser útil. Dá um certo sentido à minha existência insignificante neste mundo tão vasto.
Tenho para mim que atitudes não definem a totalidade da pessoa. Ajudam nisso, mas cada um é como é e não temos o direito de julgar alguém por agir de certa forma com outros. Embora não deixe de pensar que quem trata mal um empregado de mesa merece uma boa cuspidela na comida. Eu já servi à mesa e sei do que falo.
Isto tudo para dizer o quê? Nada ou pouco mais. Estava necessitado de uma descarga de consciência. Se alguém tivesse certos comportamentos que tenho tido, provavelmente insultava e diria mal desse sujeito. Tenho uma mente extremamente fértil para o perverso, mas, no que toca a pensar antes de agir e dizer o que não devia, não tenho um travão. Talvez tenha algo a ver com o dito Carpe Diem. Ou simplesmente estou farto de perder oportunidades por não arriscar. Desperdicei já demasiadas chances para não magoar ninguém. Já estou na fila para receber algo de bom na vida à algum tempo e acho que está a chegar a minha vez. Sim, acho que ouvi chamarem o meu número. Vou entrar. Vou entrar sem olhar para trás. Se pisar alguém, peço desculpa desde já. Não é que seja sentido, mas fica bem dizer.


quarta-feira, 15 de maio de 2013

A Vontade


Sinto-te a aproximar e fico sem saber o que fazer. Paralisado e afónico. Tomas controlo da minha pessoa como se tivesses um controlador remoto que me comanda. O coração bate a 1000 a hora.
A tua presença tanto incomoda como me alegra. Tanto me faz rir, como ficar melancólico. A única certeza que tenho é que tens habitado a minha mente como se dela fosses dona. Do acordar ao dormir, estás presente.
Quanto mais tento que saias do pensamento, mais frequente te tornas na mente. Chega ao ponto em que visualizo a tua cara, linda e sorridente, como se à minha frente estivesses.
Fico aluado ao pensar em ti. Parado com aquele sorriso parvo de apaixonado na cara. Tem o seu quê de piada, excepto quando isso acontece em momentos inoportunos.
Embora para mim, não haja momentos para pensar em ti. És uma constante na linha do meu pensamento.
As vontades nem sempre se tornam ou podem tornar em actos. Se assim fosse, estaria a dizer-te isto cara-a-cara. Fazendo pausas para ver a tua cara a corar a cada palavra que eu digo com mais carinho. Agarrando as tuas mãos no fim, por já ter memorizado o que dizer, para no fim ficar com a cara bem encostada à tua e selar a paixão com um merecido beijo.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Sinais do Universo

Já acreditei mais no destino e na superstição do que hoje em dia. Ligava bastante aos sinais. Algo que para qualquer um seria uma simples coincidência, para mim era o equivalente a um milagre para um cristão. Acreditava que as coisas tinham uma razão de ser e ainda acredito. Apenas já não com tanta convição como antigamente.
Quem ajuda, será ajudado. Quem trata mal, será maltratado. Simples, certo? Então porque é que depois de ter bem tratado alguém que me maltratou, ainda sofro mais? Se calhar devia ter maltratado essa pessoa em resposta ao sofrimento que me provocou, mas, lá está, prefiro acreditar numa espécie de karma que atua nestas situações.
Momentos destes fazem-me perder a vontade de acreditar em sinais. Deixo de dar significado a cada pequena coisa. Torna-se tudo coincidência. Algo ordinário. Comum. Normal.
Eu não gosto do normal.






“Maybe it’s dumb to look for signs from the Universe. Maybe the Universe has better things to do—dear God, I hope it does. Do you know how many signs I’ve gotten that I should or shouldn’t be with somebody, and where has it gotten me? Maybe there aren’t any signs. Maybe a locket is just a locket, a chair is just a chair. Maybe we don’t have to give meaning to every little thing. Maybe we don’t need the Universe to tell us what we really want. Maybe we already know that deep down.”
Ted in HIMYM

terça-feira, 7 de maio de 2013

O Reencontro


A incerteza de te voltar a ver deixava-me irrequieto. Mal te vi, sorri. Não me consegui conter e apesar de não o dever admitir, o meu coração teve uma mini explosão. Senti como que uma onda gigante dentro do meu corpo. O sangue a subir à cabeça numa velocidade tal que fiquei afónico.
Só quando falaste para mim e me cumprimentaste é que depois consegui verbalizar o pouco que no meu cérebro não estava rasurado. Há que pensar no que dizer e no que guardar para mim. Tanto queria estar ali e falar contigo até ao nascer do sol, como ao mesmo tempo pensava em ir embora sem nada dizer.
Luta entre cérebro e coração. Amor e razão. Vontade e paixão. Um ciclo infinito de se's que nascem no pensamento.
E com isto tudo, esvaziei o meu copo. Vou buscar a garrafa.


terça-feira, 30 de abril de 2013

Um Passo Em Frente

Não direi que sou corajoso para não parecer convencido, mas se disser que sou humilde não deixo de parecer convencido na mesma. Logo não me vou definir e facilito a coisa.
Sinto um medo avassalador do incerto. Do imprevisto. Saltos de fé não é coisa que puxe por mim. O receio de me aleijar bate qualquer tipo de coragem que possa residir em mim.
Falar do medo do futuro incerto já é cliché. Por isso vou denunciar um outro grande medo que me tende a perseguir. Eufemizando, tenho medo de dar um passo sem ver onde ponho o pé. Literalmente, apenas quando estou distraído é que não ando a olhar para baixo para ver onde caminho. Gosto de saber que nada me magoará ao dar esse passo. Só assim continuo o meu caminho.
Já dei demasiados passos em falso pensando que tinha onde me agarrar e depois caí. Várias foram as vezes em que me apoiava ao andar e do nada falhou o apoio e tropecei. Chega a um ponto em que a dor não se aguenta. Aí ganha-se o medo de andar sem olhar bem para o chão. Adquire-se até o hábito de olhar mais em frente para evitar certos buracos, postes ou um simples cocó de animal, para não dizer asneiras.
O hábito instala-se e, como aprendemos de pequeninos, começa-se a andar sozinho. O amparo que antes nos segurava desaparece e passamos a puder contar apenas connosco próprios. Hábito também facilmente enraizado.
Eis então que num belo dia, ao andar sozinho, na eminência de cair alguém nos segura. Uma boa surpresa que nos surpreende. Relembra-se o quão bom era ter aquela ajuda na nossa caminhada árdua e cheia de armadilhas. Quão mais fácil era caminhar em par. Sentir que podemos olhar mais em frente, sem medo de dar um passo, sem continuamente olhar para o chão que estamos prestes a pisar. Nostalgia que afeta qualquer um, especialmente o mais sentimental.
Caminhar sozinho é aborrecido e torna-se até triste. Daí a busca de alguém disposto fazer este caminho em conjunto. Saber que ao nosso lado está alguém que nos diz "dá esse passo em frente. Se caíres eu ajudo-te a levantar". Alguém que nos ajuda a superar o nosso medo e torne feliz a nossa caminhada.

domingo, 7 de abril de 2013

Pirâmide de Cartas


O tempo passa e tudo muda. É um fato que quanto mais depressa for aceite, melhor para ti e para todos à tua volta. O que mais facilmente se nota a mudar é o vocabulário  As definições de certas palavras. O uso de alguns verbos. Algo que passa despercebido a muitos porque provavelmente ajudaram nesta passagem.
O mais notável é o verbo mais usado nos tempos de hoje: Gosto. Um simples botão mudou o significado de um verbo para uma generalização demasiado global. Enquanto que na realidade há imensos verbos similares, com menos ou mais intensidade, na sociedade virtual há um apenas. Zero ou um. Sim ou não. Gosto ou a ausência dele. Simplista, é verdade. Daí a sua enorme aderência e fama. O problema é quando se espalha e afecta outras palavras. Outros verbos.
Ainda me lembro da primeira vez que o disse e que realmente o senti: Amo-te! Até lá chegar, e sentir que não era apenas mais uma forma de expressar que gostava dela, foi toda uma escalada por entre palavras e verbos amorosos. Quando já havia confiança lancei um Gosto de Ti para o ar e ela apanhou-o.
Era como construir uma pirâmide com um baralho de cartas. Tem de se começar pela base. Pela amizade. Se a base não estiver segura, o topo cai. Vai se subindo de nível sempre com segurança. Um passo em falso e caia tudo.
Mais tarde arrisquei de novo e, como quem não queria a coisa, disse Adoro-te. Consegui! Mais um nível da pirâmide seguro.
Com o passar do tempo a confiança aumentou. Ganhei ainda mais coragem e finalmente concretizei o que sentia em uma única palavra. Pequena e simples, mas ia carregada de sentimentos indescritíveis. Amo-te!
E agora, o que mudou? Não muito. Apenas se salta logo do primeiro beijo para a cama. Passado umas semanas de amizade já se usa o verbo Amar de maneira banal.
Matou-se um bocado, se é que não foi por completo, todo o romance que antigamente fazia chorar até aquela rapariga menos sentimental e fechada. Todo aquele cortejar da donzela. Tudo o que se fazia para se seduzir aquela rapariga que não nos saía da cabeça. Realmente fazer-se querer a nível do coração e não apenas a nível do exterior.
Ou então se calhar sou eu que dei para o sentimental hoje.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Live and let live

Gosto de pensar que a solução passa muito pelo Karma. Essa amiga de longa data.
Pratica o bem e boas coisas a ti virão. Ajuda o próximo e o que está longe.
Dá o que de melhor tens, sem esperar nada em troca.
Faz pela utopia onde tudo prospera. Onde não existe o mal e ninguém sofre.
Protege quem amas, como haverias de ter gostado de um escudo antes de teres sido magoado.
Não vires as costas ao passado ou a quem pede ajuda. Por muito que tenhas chorado.
Quem te diz se lá no fundo, o ser mais desumano que anda no mundo, não foi um dia o mais perto que houve da idealização da perfeição e que por ser como era sofreu uma lição. Ensinamento que não lhe era merecido, mas que a ele chegou num dia obscurecido em que o azar tomou o trono da sorte e assim fez chegar ao coração dele a morte?




"É só depois de sofreres que sabes como o evitar.
O problema é que há pessoas que por terem sofrido, têm uma necessidade de fazer outros sofrerem.
É mau, muito mau. Mas é a verdade e tu sabe-lo."
in MailsPerdidos

terça-feira, 19 de março de 2013

Dia do Pai


Finalmente chegou à cama. Depois do dia de trabalho cansativo só lhe apetece deitar e dormir. Dá uma, duas voltas. Ajeita a perna, o braço. Já está. Começa o bem merecido descanso.

De repente, um barulho. Algo irritante, embora pareça familiar. Cada vez fica mais alto, ou será o inconsciente ao lentamente acordar. Abre os olhos e vê a luz do dia. Um bebé a chorar. É o filho dele.
Apesar do barulho, um sorriso esboça-se na cara. Acordar com aquele som lembra-o a cada dia que é pai e que ajudou a trazer um ser para este mundo. Responsabilidade que sempre o assustou, mas que carregou às costas desde o dia em que soube da gravidez.
Sente um movimento na cama e vira-se. Lá está ela. A razão daquele som existir. Chega-se perto.

- "Eu vou lá amor. Dorme mais um bocado.", e pousa os lábios na sua testa.

Levanta-se, calça-se e vai a espreguiçar em direcção à porta. Está trancada. Ao estranhar, começa a rodar rapidamente. Nada. Aplica força com as duas mãos e nada. Num momento de ânsia vai contra a porta e com um estrondo abre-a.

- "Não tens aulas agora de manhã?!"

Dá um salto repentino e senta-se na cama, assustado e com uma respiração ofegante. Olha em frente e vê o seu quarto normal. O seu pai tinha entrado pelo quarto a dentro a gritar.

- "Sim, tenho. Já me levanto."

Num alívio, deixa-se cair de costas na cama. Respira fundo. E respira de novo. Era um sonho. Uma realidade paralela. Subtilmente cai do olho direito uma lágrima. Talvez ainda do sono. Mais um dia, mais trabalho. Fá-lo de boa vontade. Só com trabalho ele chegará ao seu sonho.

quarta-feira, 13 de março de 2013

Cumplicidade

Respira que eu respiro contigo. Dá um passo que eu acompanho com os meus pés. Olhas para o vazio, mas eu vejo o mesmo que tu. Pensas no inimaginável, mas eu faço-te corar e rir ao perceberes que os nossos pensamentos se cruzaram.
Sintonia com harmonia que nos segura mutuamente em situações deprimentes. Uma cumplicidade que faz saudade, mas que ao mesmo tempo criou uma barreira intransponível. E quê? Para que servem os sonhos senão para ver, sentir, cheirar, tocar, saborear!.. o impossível que a actualidade nos impõe.
Os teus lábios vermelhos carnudos inundam a minha fértil mente de pensamentos ditos imundos, mas que me fazem voar mais alto que qualquer droga.
À primeira vista, assemelham-se a duas galáxias repletas de estrelas mais brilhantes que o sol. Ao voltar à terra, não deixam de brilhar à mesma aquela cor clarinha característica dos teus olhos.
As mãos mais suaves que alguma vez sentira, também te pertencem. Compará-las com a seda mais cara seria um elogio, para o tecido. Um simples toque na minha face é arrepio instantâneo e completo dos pés à cabeça. Tanto em mim como em ti.
Cada parte de um todo que se junta num conjunto que já me arrisquei a classificar de Perfeito. O errar é humano e eu comprovei-o. Comparar-te a algo perfeito foi incorrecto. Talvez num futuro distante a definição de perfeição consiga chegar aos teus calcanhares.

sábado, 2 de março de 2013

Relembrança


Uma bolacha. Uma no meio de muitas ainda na caixa das bolachas. Devem ter sido compradas recentemente, pois não as tinha visto ainda. Se soubesse não teria sido tão grande o choque.
Sempre gostei da minha memória e da capacidade de preservar momentos, frases, palavras e actos. Há coisas que nem uma fotografia ou vídeo conseguem guardar.
Um olhar bastou e o meu pensamento ficou dominado com aquela memória e tudo o que com ela foi preservado.
A sensação de conforto que se tem ao acordar de manhã. O calor da cama que foi aquecendo durante a noite. Saber que mesmo ao lado está aquela pessoa que adormeceu agarrada a ti. Cujas palavras te fizeram adormecer e agora ao ouvir Bom dia te fazem espreguiçar e esticar subtilmente para um abraço matinal.
Findo o abraço, uma leve comichão nas costas. Migalhas. Ao chegar à cama na noite anterior, alguém teve fome e decidira fazer piquenique na cama. E logo a seguir deparo-me de novo com a caixa das bolachas. A viagem pelo passado acabou.
Uma bolacha e o pensamento divagou. Horas de memórias relembradas em menos de um segundo, mas com todo o sentimento e paixão que tiveram no passado.

sábado, 23 de fevereiro de 2013

Formatação


Controlo. Uma palavra-chave na vida de muitos. Há deles que dão importância a menos e depois há aqueles que exageram. Tornam-se possessivos. Viciados. Não conseguem definir limites. Perdem o controlo.
Informático que sou, nada melhor do que formatar. Limpar tudo e começar de novo. Esquecer o que havia para trás e voltar ao zero. Apagar todos os registos existentes do passado. Cada ficheiro. Cada texto. Cada fotografia.
Há sempre problemas associados a este tipo de mudança. Se fosse fácil alterar a tua vida e como a vives, não haveria tanto problema no mundo. Certamente haveria menos conflitos. "Algo está mal? Volta a trás e emenda."
Desde pequenos que tentamos fugir aos nossos problemas do dia-a-dia. Quantas vezes não fugi da minha mãe por ter feito asneira e pensei ser essa a solução. Mais tarde ou mais cedo, ela apanhava-me e aplicava-me as consequências. Mas mais do que isso, era mais severa por eu ter fugido.
Pensando bem isto é um ensinamento para a vida. Fugir aos teus problemas nunca foi a solução. Eles acabam por te apanhar. O coxo passa-te sempre para a frente. O azeite vem sempre ao de cima. A mentira e a falsidade nunca ganham. E mesmo que ganhassem, eu acredito no Karma!

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Perda de Controlo

Vejo-te em todo lado para onde quer que olhe. Sinto o teu cheiro a cada esquina. Quase que sinto o teu sabor a cada brisa que passa. Cada passo que dou faz-me sentir mais perto de tropeçar e sucumbir à tentação de te sentir nos meus lábios. Sentir o teu venenoso abraço enquanto nos fundimos.
Se tento não pensar em ti, não me sais da cabeça. Mas quando do nada te relembro e noto que não estavas no pensamento há tantas horas irrito-me por ter quebrado esse tempo de paz interior. Se é que se pode chamar assim.
Se dissesse que tens parecenças a uma droga estaria errado. És precisamente esse tipo de vício. Controlas o meu pensamento sem eu me aperceber. Dominas a minha maneira de pensar e agir. Influencias o horário das minhas refeições e por vezes tiras-me mesmo a fome.
És viciante. Uma vez não chega. Duas não satisfazem. A terceira é apenas mais um estímulo para a quarta. Parar é uma hipótese, mas é quase como renunciar o instinto natural que nasce connosco. Até certo ponto sinto-me mesmo uma marioneta. Sinto-me manipulado pelo teu sabor provocante que desde o primeiro toque aprendi a gostar e a desejar.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Boa Noite

As últimas palavras. Há quem lhes dê extremo simbolismo. Há quem não ligue patavina a isso.
Há quem não consiga adormecer sem dizer "Boa noite" à sua outra metade. Há quem chega à cama e começa logo a ressonar.
O valor que cada um dá a essas palavras varia bastante. Vá, exceto aqueles momentos diferentes, para não dizer especiais. Já gostei mais da expressão "especial". Hoje em dia é banal.

Lembro-me das últimas palavras que a minha avó me disse.
Lembro-me dos últimos momentos que tive com os que me são mais próximos. Com os que já me foram próximos. Por vezes até das últimas conversas que tive, ou pelo menos das mais marcantes.
Lembro-me das últimas palavras carinhosas que proferi a cada pessoa que entrou ou passou pela minha existência.
Lembro-me da última palavra de amor sentida que ouvi.

Tenho uma certa tendência para isto. Há coisas que me ficam na memória e custam a sair. Não que eu as tente esquecer. Se há coisa que aprendi é que quanto mais se tenta esquecer alguma coisa, mais difícil se torna. É como tentar pensar em não pensar em nada.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

A Sorte do Azar

Adoro o destino. "Adoro" como se fosse aquele amigo que está lá para mim sem eu pedir ou sequer parecer que necessito de ajuda ou apoio. Já me ajudou em muitos testes e exames. Em várias situações de perigo que, graças a esse bacano, não se chegaram a concretizar. Até já me safou umas poucas vezes de conflitos com a autoridade, apesar de eu ter sido claramente uma vítima em todas as situações! No grande plano, não me posso queixar muito do destino, ou do que a ele se costuma atribuir.
Contudo, há que abordar o outro lado da questão. Até porque gosto da expressão abordar. E para isso tem de haver um mas. Mas, ao contrário do cliché, não vou abordar (gosto mesmo desta expressão) o lado do "nem sempre o destino nos dá o que queremos" ou o "o destino levou-nos a este mau momento, mas certamente algo de bom virá no futuro". Hoje deu-me para pensar no "E se nada disto for culpa do destino? E se o destino foi apenas uma palavra inventada para nos fazer sentir melhor e tudo o que se passa for nossa culpa?".
Podemos estar no fundo de um poço, no meio de um deserto, à beira duma estrada desconhecida durante a noite "encalhados". Se a culpa não for nossa ou totalmente nossa, não nos sentimos tão mal. Quanto mais novos melhor se nota isso: "Quem disse/fez/estragou/partiu isso?" e logo nos apressamos a apontar o dedo ao gajo do lado. Desde que não sejamos nós a acartar com as consequências, sentimo-nos bem. Ao crescermos a coisa muda um bocado, pois se o responsabilizado souber quem o acusou não nos safamos tão facilmente. E aí entra o tal gajo, O "destino". Ou como alguns gostam de chamar: "coincidências".
A primeira vez que encontrei dinheiro no chão, estava precisamente a pensar o quanto me sabia bem umas gomas ali da loja ao lado. "Epah, que bom! Que sorte que tenho eu!". A primeira vez que se enganaram e me deram bebidas a mais num bar, pensei o mesmo "Tenho sorte!". Se fosse tudo assim, não havia razão para livros de reclamações e anti-depressivos no mundo. Era tudo como queríamos e tudo corria bem! O que eu não pensei é que se eu encontrei dinheiro, alguém o perdeu. Se eu recebi bebidas a mais, alguém ficou a seco. Se ela deixou alguém para estar comigo, alguém ficou magoado.
Tento ver as coisas pelo prisma da ação/reação. Se eu tive azar, se calhar alguém teve sorte. E embora eu possa estar muito mal, não chego ao fundo, pois algo me faz acreditar que a minha tristeza deu lugar à felicidade de alguém.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Um Romântico


Um mês. Um mês é bastante tempo. Pelo menos naquela idade. Diariamente ele via aquele sorriso que tanto o andava a atrair. O acordar e o deitar eram marcados pela cara dela, como se à frente dele estivesse. Havia ali qualquer coisa. Ele sabia-o. Um mês tinha chegado.
Planeamento. Só pensava nisso. Quase mais do que nela. Tinha de ser como ele queria. Como tinha imaginado e sonhado. De maneira a que ela não pusesse qualquer peso no 'não'. Ela tinha de dizer que sim! Mas isso ia-lhe dar trabalho.. Mas também algum divertimento.

A caixa foi comprada com bastante antecedência. Escolhida a dedo pela sua cor, formato e tamanho. O espaço para a foto à frente foi um bónus! O conteúdo foi mais difícil de escolher. Tinha de ser do agrado dos dois. Especialmente do dela! Afinal de contas, ela é que ia ser surpreendida.
Bastou uma distração e tirou-lhe as chaves da mala sem ela sequer perceber. Pelo menos até chegar a casa e ficar à porta. Ainda lhe ligou para saber se ele sabia de algo, mas ele tudo negou. Tinha de ser! Estava tudo a postos para o dia seguinte e não podia deitar tudo a perder.
Chegou a hora. O relógio marca as 15h20. Os dedos transpirados do nervosismo mal conseguem escrever a mensagem que a fará sair da sala de aula. Assim que o vê ao fundo do corredor, os olhos e a sua expressão fazem-na perceber que algo se passa. Mais ainda quando, ao se aproximar, descobre o seu conjunto de chaves são e salvo nas mãos dele. Primeiro um alívio, depois a questão. Porque tinha ele as chaves? Em forma de resposta, aponta para o cacifo dela. Relutante, dirige-se ao seu cacifo. A chave roda. A porta abre. E ele pergunta-lhe.

Estava mesmo na hora. Ainda tinha de ir a casa almoçar depressa para ainda passar no shopping para a última compra. Apesar da figura que estava a fazer, pouco se importava. O pensamento estava bloqueado no seu objectivo - Ela! Rapidamente chega à escola e começa o plano. Tinha de esvaziar o cacifo dela. Cheio de tralha, como sempre. Quase três viagens até ao seu cacifo para esvaziar o dela. Estava a ficar tarde, mas já está tudo no seu lugar. São 15h. Começa o nervozinho. O andar aleatório no corredor à espera do fim do intervalo, apesar de ela ter ficado dentro da sala. Ele queria o corredor livre para a surpresa. 15h15 e a mensagem é enviada. Mais uma volta e lá está ela ao fundo do corredor. O coração bate a mil enquanto ela se aproxima. Com ar de gozo, mostra-lhe as chaves que tinha atrás das costas e indica-a para o cacifo. Assim que ela o abre e ele a vê prestes a saltar de alegria para os braços dele, ele pergunta.
O medo do
'não' desaparecera. Ela estava feliz. Lágrimas de alegria correm pela suave face. 
- "Sim", disse ela.