quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Entradas e Saídas

Logo, quando se aproximar aquele especial e derradeiro momento, olha ao teu redor. Logo, quando for o último segundo, do último minuto, da última hora, do último dia do ano, olha à tua volta. Logo, quando estiveres de copo e passas na mão a fazer a contagem decrescente, olha para a esquerda e para a direita.
Nesse instante, vê quem está contigo. Quem realmente são essas pessoas que, directa ou indirectamente, tu escolheste como companhia neste final de ano. Num evento anual e único como este, supõe-se que essas são aquelas pessoas a quem chamas de "melhores amigos".
Aquelas personagens com quem vives, ou viveste, grandes e marcantes momentos. Aqueles em que confias os teus segredos mais obscuros. Aqueles com quem procuras estar nos piores momentos, e eles a ti. Aqueles com quem fizeste recordações para a vida.
Memórias que te irão por a chorar baba e ranho passado umas décadas, mesmo que já de pouco te lembres e tenhas de recorrer às fotografias e vídeos desfocados pela felicidade do momento. Momentos que, como quaisquer outros, não voltam atrás.
Logo, quando se iniciar o décimo quinto ano deste milénio, olha à tua volta para as pessoas que te rodeiam e celebra com esses teus mais íntimos. Desfruta do momento e esquece o resto que possa haver lá fora. Amanhã é outro dia.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Indulgência

"Não sei se peça desculpa.

Desculpa por ter sido a má influência que fui.
Desculpa por não ter sido a pessoa que merecias.
Desculpa por te ter mostrado caminhos menos próprios.
Desculpa por te ter magoado e ter impulsionado a tomar escolhas erradas.
Desculpa por te ter dado falsas esperanças quando mais precisavas de um amigo.

Mas não sei se peça desculpa.

Todas as falcatruas que cometi, serviram-te para não tropeçares de novo.
Todas as estradas más que te mostrei, contribuíram para formares novos laços.
Todas as injustiças que por mim sofreste, precaveram que te magoasses outra vez.
Todas as cicatrizes que te fiz, enrijeceram a tua pele e tornaram-na mais resistente.
Todas as tristezas que sentistes, aperfeiçoaram a tua visão do mundo e de como ele é.

Não vou pedir desculpa, não porque não me sinta culpado.
Não vou pedir desculpa, porque, sem ter noção, considero ter tido um papel importante numa parte, por mais ínfima que seja, na felicidade que sentes hoje em dia."

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Mágoa

Vontade não falta para agarrar em ti, ou fazer-te sinal, de modo a entenderes que preciso de falar contigo num ambiente mais reservado. No entanto resisto a essa "fraqueza" de falar de e sobre sentimentos que me passam pela cabeça, porque para mim não passam disso mesmo: fraquezas.
Por mais que eu deseje libertar estes pensamentos que me assombram dia e noite, guardo tudo para mim, altruistamente, para não teres que carregar o peso dos meus segredos comigo. Esse fardo é meu e sou eu que o vou suportar até dar à sola. Independentemente de achares que deva falar contigo ou não, a vontade de me expressar só tende a crescer, mas prevalece a força, egoísta talvez, de reservar para mim estes pesadelos que me perseguem ao acordar e ao adormecer.
Gosto do facto de saber que vais estar lá para a minha queda, mas não quero me vejas a cair. Vou-te afastar sempre até ao limite da distância de segurança, pois pior que eu mandar um tombo, é saber que ao bater no fundo te vou magoar.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Mensagens

É o problema dos P's. Preocupar-me, ser Paciente, Pensar demasiado, Ponderar antes de agir. Foi apenas Pura coincidência, afinal. Independentemente da letra inicial, vai tudo dar ao mesmo. Vai tudo dar a ti. Vá, quase tudo, que eu desgosto de pessoas convencidas.
No fundo do cerne, vai é tudo calhar ao mesmo sítio. Ao centro da questão inadiável, mas que ninguém gosta de colocar por ser tão cliché que até o dicionário automático das mensagens escritas já te indica, mal escreves a primeira letra das palavras. Isto é: "Estás bem?".
É simples, directa ao assunto, sem rodeios. Talvez por isso mesmo é que raramente se obtêm respostas sinceras. Por ser tão assertiva, ninguém espera uma resposta "ao lado". É o dito "sim" ou "não". Responder talvez ou qualquer outro tipo de ideia que vacile entre o zero e o cem, dá azo a conversa e há quem não desfrute disso mesmo.
É bom receber uma destas. É sinal de que não agimos de forma indiferente e que há alguém que toma alguma atenção a nós. Ou que, subconscientemente, deixamos trespassar certos actos ou palavras que buscam essa mesma vontade de ter alguém que pense em nós e nos questione. Alguém que repare que algo está diferente e que nos pergunte, nem que seja, "Como vai a vida?".
Vontade essa que já me passou pelo pensamento e quase o ultrapassou, mas retraí a mesma. Pois por mais que seja a necessidade (e quase que é) de enviar essa mesma questão e obter uma resposta, de nada vale o esforço se, de antemão, já se antecipa um resultado viciado. Um retorno eufemizado com carinhas sorridentes e que nada ajuda a apaziguar o remetente. É aquela resposta afirmativa que é suposto dar a entender que tudo está nos conformes, mesmo que não esteja.
Daí surge o silêncio. Uma segunda vontade que supera a inicial. Porque entre ponderar, questionar e chegar ao ponto de querer saber se "Está tudo bem?" e ficar calado sabendo que a resposta vai ser falsa e manipulada para não incutir uma conversa mais profunda, escolho o imparcial que dá mais valor ao silêncio do que a um singelo retorno mascarado.

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Mudo

Como estás? Está tudo bem contigo? Que tens feito?
Só isto. Talvez um pouco mais, dependendo da resposta.
A vontade é suficiente para o escrever, mas não para carregar no Enviar.
Sinto que o devo fazer, nem que fosse por um puro descargo de consciência, mas hesito. De forma alguma quero ser mal interpretado, o que por vezes acontece. Tenho em mim que a facilidade em me expressar surge naturalmente, excepto quando a ti me dirijo. Quer por escrita ou verbalmente. Faltam-me, em demasia, as expressões, as palavras, as preposições, os substantivos e até verbos. Crias em mim um impedimento de falar que me tira do sério. Sinto-me quase mudo e o medo de não me verbalizar da maneira exacta que penso, e que quero que me entendas, faz-me ponderar num ponto em que pensar vinte vezes não é aceitável.
Então calo-me. Fico-me pela ignorância de não puder saber de ti.
Tudo isto quando gostava apenas de partilhar contigo o quotidiano habitual.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Vício (2)

Doce beijo esse teu. Suave sensação que me dás cada vez que te toco, mesmo sabendo que me aproximas cada vez mais da morte a cada toque. Mas cada vez que te sinto apenas me faz desejar mais e mais. És viciante e apanhaste-me sem me aperceber das consequências, apenas pensando no bem estar momentâneo que me trazes cada vez que te tenho na minha mão. O perigo que advém não me passa ao lado e nem assim deixo de te cobiçar mais e mais. Tornaste-te na droga pela qual desespero diariamente, nunca total ou completamente ao meu alcance. 
Incitas em mim uma força artificial que, apesar de conseguir, não pretendo controlar. Dar as rédeas a essa energia impulsiva ajuda a subir mais alto nessa emoção que me trazes a cada simples contacto. A cada segundo que passa o tempo apressa-se. A cada respiração os pulmões se enchem mais. A cada batimento o ciclo cardíaco acelera. Surge a dor no peito da pressão que me fazes sentir, por me obrigares a lidar com as sensações que me despertas.
Procuro maneiras de te largar ou substituir. Nada resulta. Transformaste-te no remédio intrínseco que me ajuda a mover e me faz querer continuar. Talvez a solução não seja anular o desejo que tenho por ti, mas sim amenizar a vontade de te ter comigo. De te ter na minha mão. De sentir o calor que me transmites a cada toque teu. Diminuir o apetite de ti. Aprender a viver com esta ânsia de te querer a cada momento e saber que não é possível. Para tal o ser, deixaria de viver. Única coisa da qual não abdicaria para te ter como estimava.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Música

Anos passaram desde que ouvi a música pela primeira vez. Recordo as emoções que em mim despoletou, pelo som, pela letra, pela emotividade do cantor. Adorei e cheguei mesmo a decorar cada verso e palavra. Cantarolava-a diariamente. Acabou por ser posta de lado, por motivos diversos, e já há uns bons três anos que não a ouvia. Surgiram outras, não melhores, mas diferentes.
Os tempos mudam constantemente e, como tudo, têm também altos e baixos. Tanto se mantêm planos como de repente surge um precipício. Acontece e pouca influência se tem nessas mudanças. Ultimamente, eu tenho bem noção, tem havido uma montanha russa toda ela desequilibrada. Entre subidas íngremes e curvas a cento e oitenta graus, sem nunca haver uma sinalização prévia dessas bruscas e brutas variações no caminho.
Foi do nada, sem pedir com licença. Emergiu no meio de centenas de pensamentos e ficou presa na superfície. De início apenas o som, a melodia. Minutos depois, a letra. Essa tão nostálgica letra com que me identificava tanto na altura como no presente. Talvez até mais no presente - a experiência de vida ajuda sempre. Desde então, há coisa de semanas, o cantarolar dessa cantiga integrou-se no quotidiano e por aí ficou. Cada verso mais forte recordado por entre andanças comuns do dia. Pelo meio, uma vontade controlada de querer partilhar essa tão doce melodia que me andava a acompanhar, que na incerteza de não ser aceite, acabava por ficar apenas no pensar.
De novo, sem qualquer advertência, surgiu de novo. Lá estava ela, bela e cativante como da primeira vez, sem que eu tivesse pedido ou feito por tal. Mais uma curva apertada e a descer na montanha russa. Uma sincronização de eventos coincidentes levados a um expoente que, através de uma música apenas, conseguiram parar o tempo.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Vício

Intrínseca vontade esta de abrir o cadeado e libertar estes pensamentos oriundos de momentos em que o único desejo é desanuviar. É um querer equiparado a um vício, mas, sendo que associo os vícios a algo negativo, realço essa grande diferença de pólos. É uma necessidade de escrever, provocada pela falta de falar. Pela falta de contacto visual, aquando da saída das palavras da minha boca, que capta a tua mais sincera resposta através dos teus reflexos e tiques. Movimentos que não se vêm, observam-se.
Reagir a esta vontade não é fácil. Envolve muitas variáveis, muitas peças no tabuleiro deste jogo. Não obstante, acabo por ceder e mostrar o que vai lá dentro. Íntimas informações, largadas para o mundo sem saber onde chegarão. Solto-me e destranco a fechadura. O difícil vem depois, quando atinjo a sobriedade e lucidez. Quando me bate a totalidade de reflexão que deixei escapar desta vez.
É uma necessidade de falar para ti. Uma que me corrói por dentro se não lhe obedecer, mas que com a minha condescendência permito que me eleve a expectativas ficcionais. Sonhos de avareza e luxo a um nível romântico que, contados, ninguém acreditaria. Faceta que já há muito está em coma, esquecida e abandonada. Por minha culpa e por falta de receptor compatível ou disponível a ganhar um lugar nestas utopias. Sempre relembradas quando ascendo até aquele lugar, lá bem no alto, em que a segurança parece infalível e tudo se torna possível.

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Livre

Não te metas por aí, já sabes que é um beco sem saída. Já passaste por essa cortada várias vezes e sempre que viras-te para lá foste embater na parede. Já devias perceber por este andar que não vais conseguir manda-la a baixo, por mais que tentes. Continua no teu caminho, com as habituais paragens pelo meio, e ignora aquela cortada. Acelera quando passares por lá, é melhor. Antes que caias na tentação de ligar o pisca sequer.
Já devias ter aprendido que isso contigo não funciona. Não és normal e, como tal, não ages como os restantes mortais. Não te está no sangue, na cabeça ou no coração essa hipotética paragem que está ali ao virar da esquina. Isso iria impor estares quieto e a monotonia sempre foi o teu arqui-inimigo. Levas à letra o ditado "parar é morrer". Vais morrer um dia e vais, por isso o melhor é mesmo aproveitar. Queres liberdade para fazer o que te dá na real gana, sem preocupações, ressentimentos ou remorsos à posteriori.
Não queres que nada te segure, amarre ou se junte sequer. Isso implicaria teres de te retrair. Não seres quem tu és. Isso para ti é contraproducente e antinatural. O som das correntes faz-te comichão. A imagem de uma jaula faz-te impressão. O simples conjugar do verbo prender faz-te arrepiar a espinha. Nada te vai agarrar, porque não vais deixar. Porque não vais dar espaço para isso. Porque até o mais bonito laço te sufoca.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Palavras Etilizadas

Continuamente à espera desse momento em que quebras as tuas barreiras e decides iniciar o contacto, o dialogo, a conversa. Já resistes à tentação há demasiado tempo e não aguentas mais essa falta de comunicação. Necessidade levada quase ao extremo fervor do quente interior que sentes cada vez que paras, sozinho, sem música. Nesse momento nada mais tens a fazer senão que pensar. Escusado é dizer no que te vem primeiro à cabeça. É mais que instintivo, é intuitivo e icástico e não há corrente que prenda essa vontade intrínseca de algo tão banal como ler uma mensagem. Lendo-a, obviamente, no teu pensamento com a voz que não é tua, mas que não consegues de modo algum esquecer. Repetes no teu profundo cerne essa doce melodia que já tantas vezes ouviste e que não é capaz de te enfastiar. Pelo contrário, anseias pelo momento seguinte em que tal voz não irá provir do teu pensamento, mas sim da sua origem natural. Calmamente, como habitual, ouves cada palavra e libertas todos os teus instintos de salva-guarda que quotidianamente usas para te proteger dos demais. Cessas o controlo que impões à tua respiração e deixas o sangue fluir pelo corpo, sem domínio algum. Sensação de uma total despreocupação, como se nada te pudesse tocar, muitos menos magoar.
Tudo isto através de algo tão singelo como uma mensagem, uma palavra, um olhar. Tão simples e puro que não necessita de explicação ou contestação. Fechas os olhos, aceitas e esqueces que as portas que estás a abrir já um dia foram arrombadas, pisadas e queimadas. Acolhes essa sensação e relembras-te de que o passado, ainda que recordado, está lá atrás. O futuro vais tu escreve-lo. Cada livro, capítulo, parágrafo, frase, palavra, letra e sinal de pontuação. Não te esqueças de pontoar! Afinal de contas, é através desses sinais que te vais aperceber do quão feliz foste quando recontares estas histórias aos teus filhos.

domingo, 20 de julho de 2014

Avaliação

"Alcoolizado? A estas horas? Eu? Credo. Nunca!", é o princípio. A negação. Não aceitar os nossos problemas e crer que é apenas algo rotineiro em vez um vício. E que bom que é ter essa cegueira que nos impede de ver o que realmente se passa à nossa frente. Eufemismo para uma qualquer espécie de espelho que possa reflectir e elucidar a nossa própria realidade. Verdades cujo esforço nos é tão exigido, de forma a esconder ao consciente e não permitir que se torne na sua forma completa e existente.
Daí advêm algo que me importuna diariamente e que não posso mais esconder.
Eu vejo. Tu vês. Ele vê também.
Eu observo. Tu ignoras. Ele desvia o olhar.
A grande distinção que proporciono à diferença entre ver e observar é totalmente merecida. Advêm de muitos anos de experiência. Muito tempo a observar quando queria apenas ver e desfrutar. Coisa que se tornou impossível a partir do momento em que o observar se tornou maioritário e governou sem oposição.
Pode parecer banal e inocente, mas ter noção de todos os pormenores à nossa volta é apenas bom até certo nível. Pode até ser engraçado saber precisamente quantos copos aquele bebeu, quantos cigarros ela fumou, quantas vezes o outro disse aquela palavra, quantas vezes ela pegou no telemóvel. Até pode ter piada, para os outros. Para quem é observado e não se incomoda ou percebe sequer. Para quem observa, o estado de espírito pode ir de entediante, ao ponto de querer dormir, até ao ponto em que a cabeça ferve e surge uma vontade exequível de fazer um corte de cabelo à tesourada pelo pescoço. E entre isso e acabar no fundo da garrafa, não sei o que será melhor; se bem que a mais doce garrafa fica cara!
Pormenores, sempre atento a esses pequeninos.
Torna-se mesmo inevitável olhar ou ver e não observar. A única solução encontrada, até agora, é mesmo aquela que tem servido para tudo desde o início dos tempos: ficar entorpecido! Estado esse que tanto adoro como abomino. Adoro porque me faz sentir bem, abomino porque me faz esquecer e passar ao lado de momentos merecidos de recordar futuramente.
Não encontrando solução benéfica, continuo com o entorpecimento diário que me possibilita levantar à tarde e adormecer de madrugada. Acto esse que me levará um dia, talvez mais cedo que suposto, mas todos temos que ir e temos. Ao menos vou adormecido e com um sorriso esboçado.

terça-feira, 15 de julho de 2014

Inércia

É toda uma impotência perante essa tua imponência.
Sensação desesperante essa de não ter voto na matéria, de não ter qualquer influência no resultado, de não puder ter as coisas da maneira desejada. Nada fácil mesmo, especialmente quando vês bem à tua frente o desenrolar do tempo e observas que não é para esse lado que querias que o vento soprasse. Como se desse para controlar o vento.
Que se pode fazer? Nada. Que se deve fazer? Nada mesmo! Qualquer acto, por mais inofensivo que seja, é interpretado como uma tentativa de controlo e, salvo rara excepção, levado com desagrado. Deduz-se assim, muito drasticamente, que a melhor conjuntura existente será a inércia, mas tal não é exequível quando cada teu olhar nos meus olhos se transforma num intrínseco arrepio na espinha.
Depreendo, inconvicto, que a melhor medida a adoptar é nenhuma. Decido que não vou decidir e fico-me por aí. Não por medo da alteração do ambiente circundante; mais que familiarizado com mudanças. Sim, por medo do incógnito que pode advir da mais ínfima oscilação que, intencionalmente ou não, pode fazer virar o barco e, consequentemente, deitar qualquer réstia que perdure para o fundo do mar. Cemitério de esperanças que um dia imaginaram poder ver a luz do dia, mas que foram decapitadas assim que tentaram vir à tona da água respirar.
Não vou eufemizar, mas sim enfatizar o quão impotente me sinto perante a tua maneira de ser, imponente. Sempre com ar majestoso e grandioso, como se fosse impossível invadir o teu ser e fazer-te sofrer. Nada nem ninguém tem a capacidade de te deitar a baixo ou de impedir que leves a tua avante. Os teus caprichos têm de ser satisfeitos e não olhas a meios para isso, mesmo que pises quem se puser no caminho. E no fim, não obstante ao que deixas ver por fora, no teu seio continuas num ciclo contínuo de amargura ao qual não vês o fim. Ao mesmo tempo que tentas, sofregamente, sair desse turbilhão de memórias que ora te fazem rir, ora te fazem chorar. 

domingo, 13 de julho de 2014

Luta

O mais leve toque da tua pele na minha invoca sensações deslumbrantes a um nível psicológico e hormonal que me bloqueiam o pensamento e me deixam estático. Estagnado e sem reacção. Logo eu que odeio ficar sem saber o que dizer ou fazer. Momentos em que reaprendo a abrir a boca e respirar, por me faltar o ar. Ar esse que transporta um suave sabor oriundo dos teus lábios devido à tua própria respiração. Tão desejado e querido sabor, apenas ultrapassado pelo facto de ser apenas imaginado.
Desde sempre ensinado de que não podemos ter tudo o que queremos. Aceito e compreendo. Tento ainda mais acreditar no karma, embora seja algo muito complicado. Tantos com tanta coisa e alguns, que pouco pedem, nem isso conseguem obter.
Posso não merecer, não ter direito, nem possibilidades de obter esse tão precioso bem que és tu. Não deixo à mesma de lutar por uma mínima hipótese de entrar no teu raio de visão e ficar lá por uns segundos. Já me queimei antes por motivos iguais, mas a dor das feridas não me faz recuar. Pelo contrário, faz-me querer ainda mais esse tão cativante sorriso quotidianamente, numa tentativa de esquecer essas mesmas queimaduras e por fim tentar sentir algum conforto.

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Silêncio

Angustiante é dizer pouco. A falta de manobra que me impões, não só me acorrenta como me rouba o ar. Fazes-me questionar cada passo que dou antes de sequer pensar em me levantar. Impedes qualquer movimento instintivo que possa ter e obrigas-me a ponderar cada palavra antes de a pronunciar. Querendo ou não, controlas-me por completo e desnorteias-me, coisa que tu sabes me destrói por dentro.
Preocupante não descreve metade. Sabes bem da minha fragilidade interior e do quão bem a tento proteger bem guardada do exterior amargo e traiçoeiro. Ris-te para mim, ou de mim, não sei bem porquê. Sei sim que me deixas a estremecer, desequilibrado e desprovido de qualquer meio que me permita alcançar alguém próximo. Ocupas-me na íntegra e não pareces ter intenções de partir.
Constringente chega lá perto. A força que me obrigas a usar para respirar sem hiperventilar, nega qualquer mísera e remanescente vivacidade que possa persistir em mim. O custo que me é coagido reivindica juros à noite e submete o antes sagrado período de descanso, à continuação do flagelo que durante o dia se tem tornado singelo. Vais-me assolando aos poucos por dentro, e receio em saber se tens consciência disso.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Inconseguimento

Ninguém estalou os dedos, mas foi como se tivesse estado a ouvir esse som a perpetuar durante vários minutos, durante os quais as palpitações se fizeram sentir por todo o corpo, como um sismo com réplicas e tsunami de suor. Todo um tremer constante, dessincronizado e incontrolável num estalar de dedos.
Todas as asneiras existentes no mundo não seriam suficientes para exprimir a mágoa que senti naquele momento. Dor que não se mostra, mas que se fez sentir na raiz da planta que cuidadosamente fui regando diariamente. Nem o vaso aguentou a força da pancada que, apesar de esperar, não me apercebi de onde veio. Rachou de alto abaixo e fez escoar toda a água que dava vida a essa pequena flor, delicada e indefesa.
Sinto a irritação, apenas não sei a que se deve. Se ao facto de ter permitido que os meus mais férteis pensamentos sonhassem demasiado alto e agora sentir a dor da queda. Se por ter permitido chegar tão alto, conhecendo perfeitamente a dor de cair por experiência passada. Ou se por saber que por muita vontade que tenha de te dar a conhecer que me dói, recusar-me-ei a fazê-lo. Já caminhei vezes suficientes na lama para saber que não vale a pena anuncia-lo. Só estaria a arrastar alguém comigo, que nada fez para se sujar.
É rastejar para fora desse buraco e limpar o máximo possível.
Virar-lhe as costas, ignorá-lo e fazer de conta que nada aconteceu.
Recomeçar do início, outra vez, novamente e de novo. Múltiplas vezes.
Esperar, desejar, rezar para que da próxima seja diferente e corra melhor.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Ponto Fraco

Levantas bem alto esse teu impenetrável escudo por não quereres deixar mostrar o teu frágil interior. Escondes-te atrás de espelhos que apenas permitem ver o lado que está sempre pronto para levar com tudo o que te atirem, sem nunca te magoares. E se magoarem, escondes rapidamente a ferida como se de um arranhão superficial se tratasse, mesmo que tenha sido uma fractura exposta com ruptura de ligamentos.
Sangras em silêncio no teu mundo e limpas-te no fim para que ninguém perceba. Choras sozinha num qualquer canto escuro para que ninguém te veja. Para que ninguém te pergunte o porquê das lágrimas que percorrem o teu rosto.
Forças os teus músculos faciais para que aguentem o sorriso que tanta dor escondem. Inebrias o teu consciente para não lidares com dilemas diários que te importunam, mesmo sabendo que ao acordares lá estarão para mais um dia percorrerem o teu pensamento. Mas isto apenas quando, por instantes, compactuas com os teus demónios e consegues realmente dormir, já depois do habitual remédio que te ajuda a fechar os olhos.
Quanto mais te fechas mais te proteges, dizes tu a ti própria com a mão na maçaneta da tua porta de aço reforçado, mas ansiando por aquela pessoa que vai ter a chave para abrir sem forçar a entrada. Alguém que venha em teu auxílio e que te mostre que não é dar parte fraca ao abrir essa entrada para o delicado núcleo que tanto lutas para guardar a salvo.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Pura Autenticidade

Preso sem saída nesta redonda esfera,
Guardando para si a vontade; desespera.
Sem liberdade para ser neste mundo cúbico
E guardando para si o seu lado pudico.

Esconde o seu íntimo, mas é um aperto
Ser quem não é receando ser descoberto.
Porém, o pavor da exclusão é superior,
Por isso não transparece seu interior.

Deambulando entre gente que desconhece
O que realmente em sua alma acontece.
Sortudos por não terem menor ideia
Todo o mal que na mente dele vagueia.

Impõe seu altruísmo a um nível máximo
E evitando afectos de quem é próximo.
O desfecho final já é mais que conhecido
E não há restauro p'ra um coração partido.

quinta-feira, 27 de março de 2014

Recordação Noturna

A íris está bem grande. Sinal de sinceridade e honestidade, com a sua dose de ingenuidade pelo meio.

Acorda. Acorda bem para sentires o que se está a passar e te aperceberes de que é real. Sente cada carícia da minha mão no rosto. Cada achego que vamos dando um em direcção do outro. Cada vez que a nossas bocas se juntam.
Finalmente acordaste e a vontade, mesmo que sendo espontânea, continuou a existir e a persistir. Meu desejo anseia que essa inclinação natural seja verdadeira e não momentânea. Que perdure o resto do dia e que não desapareça com o cair do sol.

Com tanto rebuliço, esqueci-me de que também eu estava a sonhar acordado. Meio a dormir acabei por ser feliz. Cada instante cravado com ferro de brasas na memória. Nostalgia que há-de vir. No fim, o sonho acabou e deu espaço à realidade. Embora um pouco triste, recordo que ser feliz não é ter tudo, mas sim dar valor ao pouco que se tem.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Introspeção

Já faz tempo que andava a precisar deste desabafo. Anda cá. Senta-te à minha frente. Não há forma melhor de dizer isto, por isso cá vai: temos de falar.

Mete a mão na cabeça. Vai ver o histórico no facebook, vê fotos antigas. E depois disso pensa. Pensa bem. Pensa melhor. Já está? Se achas que sim, estás errado. Se achas que não, continuas errado. Achas que chegaste a uma conclusão, mas ao fim de contas apenas geraste uma solução entre muitas possíveis para um hipotético problema que ainda não existe em concreto. Se é que seria um problema.
Não podes adivinhar. Não devias tentar sequer. Afinal de contas mudaste e não foi pouco! Neste momento, olhar para o passado e tentar adivinhar o futuro é inconcebível. Quem tu foste não tem de ditar quem tu vais ser. As decisões que tomaste não têm de ter o mesmo desfalque nas tuas escolhas do presente.

Há aqui algo que tenho de te deixar bem assente. Até porque desconfio que já te apercebeste do quanto tentas agradar a tudo e todos só para não teres de lidar com este teu grande defeito que, em parte, não é mais do que um medo de rejeição: Não é nada fácil gostar de ti.
No entanto, lá aparecem aquelas personagens que te conseguem aturar. Ou vêm para além disso ou têm também problemas e empatizam ou nem se apercebem desse teu defeito de fabrico graças a uma dessas tuas máscaras que pões diariamente. Pessoas raras que merecem ver o teu interior desprotegido e as cicatrizes que tens acumulado desde a tua primeira lágrima.

Pensa de novo. Só isso. Pensa e continua a pensar. Não tires conclusões, porque isso não te vai adiantar muito. Apenas te vai por a realizar e dirigir filmes que podem nem chegar a estrear. Vê bem onde metes os pés antes que magoes alguém, mas não te atrevas a por de lado a tua liberdade, saúde e felicidade.

sábado, 22 de fevereiro de 2014

O que tu quiseres

Gostar é um verbo que não gosto muito. O seu significado é demasiado vasto para dar realmente a entender o que se quer. O que se deseja. Mas, de momento, não estou a ver nenhum melhor para descrever todo este rebuliço de sensações.

Já mal me lembro da última vez que senti um batimento cardíaco tão acelerado. E eu tenho boa memória.
Sei que estava no limiar da indisposição ao sentir as batidas a mil. A expectativa de voltar a sentir aquele toque suave e realmente saber aprecia-lo. Saber dar o valor devido que tão estupidamente negligenciei no passado. Não prometo nada, até porque não me cabe a mim fazê-lo. Pelo menos não só a mim. Consigo apenas dizer isto: errei uma vez e chegou. Desculpa, outra vez..

Não gosto mesmo nada do verbo gostar. Ou então é só do momento.
Tenho de reconhecer que estou diferente e que houve uma mudança. Estou mais calmo e sinto-me muito melhor. No entanto, não deixei de me aperceber de um novo receio. Um grande medo que já magoou quem não merecia - a mudança.
Mudar é bom até uma certa extensão. É um campo minado que não afecta só a nós, mas também quem leva com os estilhaços só por estar ao nosso lado. Prefiro continuar no meu escuro a ter de ver as luzes dos outros apagarem. Daí não querer mudar.
Analisando melhor, pouco ou nada deve mudar. Se eu me sinto bem contigo assim, tentar fazer com que mudasses é errado. "Gosto" da pessoa que és agora. Como és. Como ages. Pacote completo..
Não quero errar e tentar engaiolar-te ou cortar-te as asas. Sê como és, porque foi essa pessoa que me despertou a atenção e não outra versão qualquer.

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Barulhos da Noite

É em dias como este em que acabo por ir a pé para casa, e fico sem bateria para ouvir música, que realmente sinto o vazio que é a minha vida sem ti. Sem música para ocupar o meu pensamento e me por a cantarolar, nada impede que divaga e me venha a tua imagem à mente. Sempre tive a música para preencher essa cratera que criaste em mim.
O tempo passa, mas pouco ou nada cura. Cicatrizou uma pequena porção, o que permitiu que seguisse em frente. Segui e percorri outros caminhos. Até que houve outra cortada na estrada da vida que reabriu essa ferida. A diferença é que desta vez a culpa recaiu sobre mim. Desta vez, fui eu que não vi o que tinha à frente. Fui eu que não dei importância a quem merecia. E passado um bom tempo, eu próprio me apercebi do erro e arranhei tanto que saiu a crosta. Hábito que ganhei desde pequeno, este de não deixar cicatrizar bem as feridas e ter uma prepotência para arrancar as crostas.
Esta última está a custar. É pequena pelo que devia doer menos, mas o erro que cometi, que criou esta mazela, dói muito mais a nível psicológico. Podia tão bem ter evitado a dor e, cegamente, mandei-te dar uma volta. Nem nos dias mais intensos de estudo, em que nada mais existe para além da matéria, consegui chegar à cama e não me questionar exaustivamente do porquê de te ter largado e posto de lado. Podia tão bem estar agarrado a ti e ver-te adormecer, ao invés de me autoflagelar com nostalgias.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

Emoções Soltas

Porque raio não senti isto mais cedo? Não estava preparado, eu sei. Rejeitei-te por imaginar haver melhor por aí. Mal eu sabia o quanto estava enganado. Se tivesse esperado, aguentado e percebido, na sua totalidade, o que se podia vir a formar naquele ambiente tão fértil e feliz.
Era tudo tão simples, direto e bom. Mal me conhecias e já entravas dentro da minha cabeça, embora não to dissesse. Não queria tornar o simples em complexo e estragar o que me fazia feliz. Verdade. Tanto é que conseguiste entrar cá dentro, nem sei bem por onde. Não me percebi na altura, mas deixaste a tua marca e agora sinto uma comichão naquele sítio por onde entraste.
Conseguiste despertar em mim algo de novo e emotivo. Acordaste uma parte que estava em coma há muito tempo. Não te culpo por isso. Embora me apeteça, não és tu que tens culpa de eu ter andado cego naquela altura. Não consegui ver para além dos muros que tinha à minha frente. Paredes opacas que não me deixaram ver e sentir os raios de luz que a tua pessoa, tão naturalmente, faz irradiar a todos a quem sorris.
Acabei por deitar a baixo essas barreiras. Já era de noite e mal via a tua luz radiante. Apenas um pequeno espetro era visível. O suficiente para te ver, mas não para sentir o calor dessa luz que outrora me aqueceu em noites frias. Logo hoje que está tanto frio.