segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Sem receios

Não me voltes a pedir desculpa. Peço-te.

São tantas as palavras que ainda quero ouvir e reouvir da tua boa, mas essa não faz parte da lista. Pelo menos, já não. Durante anos foi fantasia, imaginar-te proferir uma palavra que implicasse erro do teu lado. Contam-se bem os momentos espalhados pelos anos, dos quais tenho seguro que a culpa era tua e não o admitiste. Eu sabia que estavas errado e tu, não admitiste! Ficava furioso por não ter esse reconhecimento e porque no final o erro, era mais um que ficava registado na longa lista. Ficava sentido e magoado.

Revejo em mim, muitas ações e atitudes que vi em ti. Impulsos e nervos, aliados a stress. Já foram várias as indicações à minha forma de ser e, saindo a ti, entendo-te. Mas não acredito que tenhas toda a culpa. São instintos enraizados e que custam a lidar. O nosso psicológico e forma de pensar não toma sempre o caminho correto e quem está mais perto faz de tabela, mais vezes do que é merecido. Luta diária, da qual nunca pensei desistir e que, no entretanto, terá tréguas e dará espaço a melhores memórias.

O sentido e sentimento que tenho agora não transparece o mesmo que sentia antes. Terá sido moldado à medida que também entendia realmente o que vale a pena e há momentos e palavras que não devem ocupar esse tempo. Não quero que me fales como se houvesse a mínima remota chance de me ofenderes ou falares mal. Não quero que tenhas receio de falar comigo sobre o que for, a que horas forem. Não quero que te sintas mal por dizeres algo errado, sem querer ou porque a memória já te pode falhar. Quero que me digas tudo o que tens a dizer, quando tiveres que dizer, sem medo e sem qualquer sentido de culpa. 

Houve tanto que mudou, mas há coisas que não quero que faltem. Fala comigo e fala à vontade, tal como eu o faço contigo, sem receios , sobre o que penso e o que faço! Mas não me peças desculpa, por favor. Não és tu que o precisas de fazer, para ser alguém, sou eu! Eu é que tenho que, pelo menos, tentar pedir desculpa e por tanto que nem é possível mesurar. Mas quero fazer por mudar isso, também! Farei por ser melhor e para aproveitar melhor o tempo e as palavras. Quero mais e melhor, por ti, para ti e para nós.

domingo, 29 de março de 2020

Mundano

Tens assombrado os meus sonhos no pouco tempo em que me é permito dormir por esta mente incessante em voltar às memórias de ti. Questiono o porquê de olhos abertos, numa tentativa de introspecção para ao menos nesse instante não seres tu o meu pensamento. Tento fazer o necessário e forço muitas diversas distracções, algo que me ocupe a mente e me mantenha focado, caso contrário já é bem sabido que até o mais mundano acontecimento me vai fazer pensar como seria toda a tua reacção. O que dirias. A tua expressão característica de falar. O teu sorriso e a maneira como os teus olhos brilham, por trás dessa mente também sombria.

Tem sido difícil com este isolamento, porque a mente não acompanha a solitude do corpo. Ela continua a vaguear por essas ruas, por esses cafés, por essas casas onde as memórias feitas vão desvanecendo, mas a sensação ainda é recordada, por vezes. Sim, admito. Nem sempre evito e por raras vezes carrego no acelerador a caminho de uma qualquer lembrança tua que me faça recordar um bom momento. Como tudo o que sabemos fazer 'mal' e nem assim cessamos. Há aquela música. Aquela cor. Há tanta coisa que sei que irá retornar a um dos momentos em que o mundo não existia. O mundo éramos nós.