domingo, 7 de abril de 2013

Pirâmide de Cartas


O tempo passa e tudo muda. É um fato que quanto mais depressa for aceite, melhor para ti e para todos à tua volta. O que mais facilmente se nota a mudar é o vocabulário  As definições de certas palavras. O uso de alguns verbos. Algo que passa despercebido a muitos porque provavelmente ajudaram nesta passagem.
O mais notável é o verbo mais usado nos tempos de hoje: Gosto. Um simples botão mudou o significado de um verbo para uma generalização demasiado global. Enquanto que na realidade há imensos verbos similares, com menos ou mais intensidade, na sociedade virtual há um apenas. Zero ou um. Sim ou não. Gosto ou a ausência dele. Simplista, é verdade. Daí a sua enorme aderência e fama. O problema é quando se espalha e afecta outras palavras. Outros verbos.
Ainda me lembro da primeira vez que o disse e que realmente o senti: Amo-te! Até lá chegar, e sentir que não era apenas mais uma forma de expressar que gostava dela, foi toda uma escalada por entre palavras e verbos amorosos. Quando já havia confiança lancei um Gosto de Ti para o ar e ela apanhou-o.
Era como construir uma pirâmide com um baralho de cartas. Tem de se começar pela base. Pela amizade. Se a base não estiver segura, o topo cai. Vai se subindo de nível sempre com segurança. Um passo em falso e caia tudo.
Mais tarde arrisquei de novo e, como quem não queria a coisa, disse Adoro-te. Consegui! Mais um nível da pirâmide seguro.
Com o passar do tempo a confiança aumentou. Ganhei ainda mais coragem e finalmente concretizei o que sentia em uma única palavra. Pequena e simples, mas ia carregada de sentimentos indescritíveis. Amo-te!
E agora, o que mudou? Não muito. Apenas se salta logo do primeiro beijo para a cama. Passado umas semanas de amizade já se usa o verbo Amar de maneira banal.
Matou-se um bocado, se é que não foi por completo, todo o romance que antigamente fazia chorar até aquela rapariga menos sentimental e fechada. Todo aquele cortejar da donzela. Tudo o que se fazia para se seduzir aquela rapariga que não nos saía da cabeça. Realmente fazer-se querer a nível do coração e não apenas a nível do exterior.
Ou então se calhar sou eu que dei para o sentimental hoje.

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